quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Papa (supostamente) diz que é melhor ser ateu do que cristão hipócrita - a esquerda defende a volta da inquisição

     Saudações, perdoem-me a demora em postar. Adianto que dessa vez vou fazer uma abordagem mais católica, embora pense que há coisas que se pode extrair quem não concorda com esses pressupostos.
     Quem quiser ir para o conteúdo, vá direto para a segunda parte da postagem.


Papa (supostamente) diz "É melhor ser ateu do que cristão hipócrita"
ou
A esquerda finalmente reconhece a importância da inquisição

     A esquerda finalmente admite a importância benéfica da inquisição. Diversos canais de notícias brasileiras, segundo o costume, copiaram notícias e informações de mídias estrangeiras sem verificar a validade. Vem tendo muita repercussão uma frase supostamente dita pelo papa Francisco. O sumo pontífice teria dito que "é melhor ser ateu do que cristão hipócrita".
     O compartilhamento da notícia vem sendo feito por diversas pessoas que, pelo viés ideológico, se posicionam contra o rigor que caracteriza a Igreja Católica frente a diversas heresias que ressurgiram e a xeques pós modernos dignos de pombos. As correntes progressistas, católicas ou não, gostam do papa por estar trazendo afirmações que supostamente contrariam o rigor da Igreja. O contentamento ao saberem que o papa acha que é melhor pessoas serem ateias do que cristãs hipócritas indica que as esquerdas deram um passo para trás, acompanhando o papa.
     O cristão hipócrita seria aquele que se diz cristão, vai à missa, mas não cumpre com outros deveres, e com isso causa um escândalo. A solução para isso parte por duas vias. A primeira é a mudança de vida. Ocorre que essa primeira solução, o que não animou muito a esquerda compartilhadora, o que nos leva à segunda solução, que decorre da tese de que "é melhor ser ateu do que cristão hipócrita". A segunda solução é simplesmente a Igreja passar a expulsar quem é hipócrita, seguindo os rigores da inquisição. Dessa forma, não haverá mais escândalos, e os cristãos hipócritas passarão a ter um status "melhor": a de ateus. Isso é o que (supostamente) concordam o papa e as esquerdas.


     Pois bem, agora falando sério. Novamente as mídias, e dentro delas a brasileira apenas faz o trabalho mecânico de traduzir fontes estrangeiras, não conseguem interpretar aquilo que o papa diz, atribuindo um sentido mais progressista e até mesmo anticatólico ao que foi dito, isso quando não há uma deturpação proposital. Tomemos um exemplo: se o papa diz que a Igreja deve acolher os homossexuais, os progressistas ouvem aquilo que querem ouvir, ou seja, que o sumo pontífice teria dito que a Igreja não deve condenar o homossexualismo. O que o papa disse, na verdade, é que não se pode excluir ou maltratar uma pessoa por ser homossexual, mas a Igreja deve acolhê-la como acolhe a qualquer pecador. Como à mulher que seria apedrejada, o Corpo de Cristo deve amar, perdoar, respeitar; porém além do "nem eu te julgo" há o "não peques mais". O amor à PESSOA implica no ódio ao seu PECADO. Pessoa e pecado não se podem confundir, o que geraria uma desumanização do pecador. Por amar à pessoa, se percebe o qual o pecado a destrói e se odeia o pecado que a escraviza. Por amar à pessoa, ela deve ser acolhida junto à Madre Igreja, mas não seu pecado.
       Em parte o papa tem alguma culpa, pois não delimita o que quer dizer, mas o que diz passa a ser mal interpretado tanto pelos progressistas, que atribuem a ele algo mais progressista do que realmente foi, e por pessoas conservadoras, que interpretam segundo o pressuposto de que o papa é excessivamente progressistas. Ambos pensam que o papa fala ao mundo, sendo que o público alvo são os próprios católicos.
      O mesmo equívoco, proposital ou não, se deu desta vez. O papa não falou que é melhor ser ateu do que um cristão hipócrita, mas disse que muitas pessoas, ao verem um cristão hipócrita, não pensam que é melhor ser ateu. Por que ESSAS PESSOAS dizem isso? Pelo escândalo, que é o tema da homilia. Ir à missa como um cristão e depois se comportar como um pagão é um escândalo, é um mal exemplo que clama aos céus, que pode fazer mal (corromper) os pequeninos. Imagine uma criança vendo um sujeito que vai à missa todo o dia e que depois paga mal seus funcionários, os maltrata e age como um pagão. Ela poderá pensar que o que ele faz é normal, e nisso está grande perigo do escândalo. Digo a criança por ser algo forte, mas o que é próprio do escândalo é uma conduta monstruosa, que chama atenção por sua perversão. Nisso, o escândalo potencialmente pode relativizar o mal - grande problema de nossa época.
      Se a pessoa não fosse à missa e, ao contrário, fosse ateia, então não haveria um escândalo tão grande se ela fizesse o mal, pois, ao menos culturalmente, se pensa que o católico devoto deve levar para sua vida os ensinamentos de Cristo. Existem ateus bons, mas como o ateísmo não se vincula a um valor moral, sua conduta não chama atenção como a de alguém que ao mesmo tempo dá tanto valor à missa e não segue os preceitos do Cristo. Nesse sentido é verdade o que dizem as pessoas (não o papa) de que é melhor tal pessoa não ser cristã.
     Mas se não seguir o sentido do escândalo - repito, o tema da homilia - há de se dizer que aquelas pessoas estão erradas em dar tanto peso ao escândalo. Batendo na tecla que o santo padre sempre bate, é preciso que a Igreja acolha os pecadores. É preciso que a Mãe Igreja acolha a pessoa do pecador ao mesmo tempo que condena seu pecado. É preciso que a Igreja chame para si, para seus grupos e associações, os pecadores, os hipócritas, os ame pela graça de Deus e os ajude a superar seus pecados, suas hipocrisias. Isso não é automático na maioria dos casos; ao contrário, é um processo de mudança de vida, de combate contínuo aos hábitos ruins.
      Santo Agostinho foi batizado muito tarde por sua mãe temer que ele cometesse pecados muito graves após o batismo - para quem não sabe, o batismo perdoa todos os pecados - e depois tivesse uma penitência muito grande. Após ser batizado, o santo disse que, apesar de sua vida de pecados, seria melhor que ele fosse batizado antes, pois a graça do batismo lhe daria mais forças para combater os pecados. Pode haver discordância de qual dos dois estava mais certo, mas há aqui a verdade que os católicos devem compreender de que crer em Deus, estar próximo da Igreja, é algo positivo, benéfico. Daí é preferível que as pessoas sejam católicas e cristãs do que sejam ateias.
      Uma última reflexão: é certo que ter mais graças e continuar pecando é algo mais grave do que continuar pecando sem as graças em termos de culpabilidade. Mas não é caridoso negar a graça pela pessoa poder continuar pecando, pois é algo desumano exigir que a pessoa melhore antes de lhe dar o remédio.

      A mensagem do papa é simples: seja um cristão sério, leve para a vida os ensinamentos de Deus Filho. Não provoque escândalo aos outros. É forçoso buscar ambiguidade nisso e querer interpretar que ele quer relativizar o ateísmo, ao menos nessa homilia. Como diz Nosso Senhor, que o nosso sim seja sim e o nosso não não. Tudo o mais vem do Maligno.

      Boa noite.
           Ah, e ignorem a brincadeira da inquisição