sábado, 29 de novembro de 2014

O poder pelo poder

"- Eu responderei minha pergunta. O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem a riqueza, nem o luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro. O que significa poder puro já compreenderás, daqui a pouco. Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos fazendo. Todas as outras, até mesmo as que se assemelham conosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos muito se aproximaram de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os próprios motivos. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem querer, e por tempo limitado, e que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si. Não se estabelece uma ditadura com o fito de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. " (fala de O'Brien, em 1984, de George Orwell)

     Essa passagem é muito interessante. Guardo algumas críticas a algumas passagens desta frase por achar que ela exagera em alguns pontos. Por que a usei para introduzir o artigo de hoje? Pois quero trazer a ideia de que o poder altamente centralizado tem alta probabilidade de se tornar um fim em si mesmo.

     Tomemos por exemplo um resumo da história do nazismo: A Alemanha está quebrada e surge uma voz na multidão exaltando as qualidades do povo alemão. Esse líder prometeu combater o desemprego, enfrentar os exploradores, os agiotas. Hitler rapidamente conquistou as multidões com seus discursos. As pessoas queriam ouvir que a Alemanha não estava acabada, queriam imaginam que haveria um futuro melhor. Após uma tentativa de golpe e conspirações, Hitler sobe ao poder. Hitler inicia perseguições políticas contra os inimigos do regime, direciona as forças produtivas da Alemanha para a produção de armamentos, gerou uma forte noção de nacionalismo. Hitler invadiu a Polônia, continuou invadindo outros países, traiu a URSS, sua aliada. Quase conquistou a Europa, mas foi derrotado.
      O que movia Hitler - e seus seguidores mais próximos - no começo? O desejo pelo poder puro? Ou o bem da nação alemã? Havia algum momento em que seus objetivos mudaram? Ou pensemos em outros ditadores: Mussolini, Lênin, Stálin, Mao, Pol Pot, Fidel Castro. Acaso algum deles sempre quis o poder pelo poder? Ou queriam o poder para algo melhor? Não acho que posso generalizar, e nem dizer com certeza qual era a intenção real.
     Não estou interessado em líderes psicopatas que chegaram ao poder pelo poder. Que queriam o poder para exercer suas paixões doentias, para se sentirem superiores, para compensarem sua falta de autoestima. Consideremo que algum deles, no início, tinha o desejo do poder para tonar o mundo um lugar melhor.
     Pois imaginemos que um sujeito queira um mundo melhor. Essa pessoa acredita que é possível moldar a sociedade para ser melhor. Um grande líder poderia estruturar a economia, as relações sociais, até mesmo a moral. O líder não pode ter dúvidas, precisa acreditar no que diz. Esse líder precisa ter uma crença de que conseguirá melhorar o mundo, ele não tem dúvidas disso, ele nem pensará na possibilidade de não conseguir. Pode haver algumas dificuldades, é verdade, mas se depender somente dele, ele conseguirá superar os obstáculos se tiver poder o suficiente. Esse é o perfil que imagino em um líder totalitário que queira o poder para um ideal.
     Agora imaginem que essa pessoa consiga convencer as massas e consiga chegar ao poder (muitas vezes essa pessoa se sentirá legitimada a usar qualquer meios em nome desse mundo ideal). Uma vez no poder, essa pessoa começa a tomar as medidas que acha necessária. Todavia, há uma pedra no caminho - há opositores, há problemas climáticos, há novos problemas surgindo. Mas essa pessoa está agindo pelo bem, o que fazer com os opositores? Como superar os novos problemas que surgem? Se o líder estiver suficientemente comprometido com sua causa, ele poderá tentar calar a oposição. Se há problemas que o líder não está conseguindo resolver, a solução é simples: ele precisa de mais poder. Se tiver mais poder, ele será capaz de mudar a realidade.
     Somando a necessidade de o povo acreditar no líder com a necessidade de obter o poder, é provável que o líder procure medidas de patriotismo, nacionalismo, culto ao líder. É preciso de grandes eventos, grandes manifestações. É preciso encontrar, e se não encontrar, criar, um inimigo interno ou externo para unificar o povo, para dar mais poder ao líder.
      Mais problemas surgirão, a realidade é imperfeita, os meios que o líder acreditou serem apropriados podem não ser. A tensão de se manter no poder, de aplicar as medidas, de aceitar que não conseguiu mudar a realidade tal como quis faz com que o líder passe a querer mais e mais poder para seu fim. É preciso que o povo acredite mais - e se não consegue realizar suas medidas, é porque o povo não está confiando o suficiente nele. Em algum momento, o líder começará a apresentar problemas mentais (se já não tinha antes) - tudo partindo da premissa de que ele pode, se tiver o poder suficiente, mudar a realidade para sua utopia. Haverá pessoas próximas conspirando contra ele?Haverá grupos que se oponham a suas medidas?
      Em algum momento ou o líder passará a querer o poder pelo poder, se esquecendo de seu ideal, ou se lembrará do ideal, mas apenas para legitimar sua busca por mais poder de tal modo que não haverá diferenças entre ele e alguém que busque o poder como um fim em si mesmo.

      Haverá alguma pessoa que não esteja condenada a essa sequência de eventos? Tudo o que falei não é uma linha inevitável de causas e efeitos, mas creio que esses líderes querem mudar aspectos da sociedade que simplesmente não conseguem. Economicamente, algumas medidas simplesmente não atingem os resultados desejados - e podem causar exatamente os efeitos contrários. Muitas políticas visam fins impossíveis (como tornar o homem perfeito) ou simplesmente são inapropriadas para esses fins (como medidas de salário mínimo).
      E se um líder chegar ao poder com a capacidade para ouvir os outros? Se for uma pessoa humilde, com conhecimento técnico? Aí penso o seguinte: Uma pessoa humilde, que ponha em discussão tudo o que acredita, não chegará ao poder - e se chegar não será um ditador. Essa pessoa não será capaz de tomar medidas radicais, e se as tomar, ou se corromperá como uma pessoa "normal" ou abandonará o poder (se tiver o poder para efetuar a mudança, poderia ser sucedido por um psicopata ou um fanático). Se for uma pessoa técnica, isso não a impedirá de errar (e de pensar, por ser detentora do conhecimento, que a culpa é dos outros, e não de si mesmo), e se deparará com limites para a possibilidade de mudar o mundo, o que o jogará para a mesma situação que antes.

     Minha conclusão é a de que o poder totalitário tem tendência a se acumular mais e mais. Ou ele se extingue ou segue essa busca por mais poder. O remédio contra isso é justamente nos preocuparmos mais com o limite ao poder do que com quem o exerce.

     Por favor, critiquem minhas opiniões, perguntem se não entenderam algo, procurem erros.


Tenham um bom dia!


Essa tese sobre o poder praticamente extraí em grande parte do livro "Guia politicamente incorreto da esquerda e do socialismo" com algumas modificações.



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sábado, 22 de novembro de 2014

Corrupção em empresas privadas



     Existe corrupção em empresas privadas? Vi esta semana duas vezes falarem sobre esse tema de uma forma, ao meu ver, equivocada.

     A resposta, obviamente, é sim. Contudo o que se extrai disso é complicado. Vamos analisar em partes.

1) Empresas privadas e estado

     Há várias denúncias de empresas privadas que corrompem o estado. Isso ocorre para se obter diversas vantagens, como manter ou vencer alguma concessão. Nesse caso, a empresa privada sai no lucro (se não ela não faria isso) e, não o estado, mas o corrompido sai no lucro. O estado sai perdendo. Os brasileiros saem perdendo já que o serviço a ser ofertado não será o melhor no custo benefício.
      Muitas dessas situações poderiam ser evitadas se o estado fosse menor. Ao abarcar menos funções e regular menos assuntos, não haveria razão para o estado ser corrompido, já que não teria poder para beneficiar o sujeito. Isso é possível, por exemplo, quando alguém só pode exercer um serviço com a permissão do estado, como por exemplo certos transportes.
     Ao se eliminar burocracias desnecessárias também se evitaria a ocorrência de corrupção. Por exemplo, tirar carteira de motorista (nesse caso há burocracia desnecessária, embora não feita por uma empresa privada). Há pessoas que não fizeram as aulas e dirigem melhor do que eu, que já tenho a carteira. A prova teórica da carteira é uma piada de mal gosto, e vários condutores bons reprovam. Na prova prática, muitas pessoas reprovam não por não saberem dirigir, mas por ficarem estressadas no momento. É claro que pode haver aulas de direção (há pessoas que fazem após terem a carteira, a propósito), o problema é obrigar as pessoas a um procedimento desnecessário. Quem não conhece alguém que só ia por as digitais e nem ficava para as aulas teóricas? Mesmo assim esse sujeito pode ser melhor condutor do que outros que assistiam à aula.

2) Entre empresas privadas.
      Vamos imaginar a seguinte situação: Uma empresa precisa contratar um serviço de instalação de fiação elétrica. Ela vai pesquisar qual o melhor custo-benefício. Outra empresa resolve subornar essa primeira empresa oferecendo de forma escondida 1000 reais. Ora, isso não parece exatamente uma corrupção. A empresa irá simplesmente descontar o dinheiro do que é cobrado e ver se vale a pena.
     Mas a situação fica mais complicada em um caso mais realista: imagine que, em vez da segunda empresa oferecer dinheiro à primeira empresa, ela ofereça dinheiro ao sujeito responsável pela consulta dos preços. Há aí uma corrupção. Contudo, ela costuma ser menos grave do que a corrupção de um agente público, pois quando o estado sofre com a corrupção, todos os cidadãos sofrem.
     O incentivo para evitar a corrupção é maior em empresas privadas do que em empresas públicas. A empresa privada, em busca de lucro, não pode tolerar que seus empregados sejam corrompidos e prejudiquem a empresa. A fiscalização é mais intensa do que no governo, cujos governantes não são diretamente afetados pela corrupção de seus subordinados. O empresário deseja saber como seu dinheiro está sendo gasto. O governante não é atingido no bolso por uma perda de dinheiro público.


     Espero, com esse pequeno texto, ter mostrado que a corrupção envolvendo o estado e não envolvendo o estado têm consequências diferentes. Enquanto a corrupção do governo atinge a todos os cidadãos, a corrupção de empresas atinge sobretudo o dono da empresa cujo funcionário foi corrompido. O empresário irá tomar medidas mais enérgicas para fazer cessar a corrupção. O estado não, já que não tem tantos incentivos para fazê-lo.

Tenham um bom dia!


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sábado, 15 de novembro de 2014

Reeleição

Desculpem a demora e por não haver postagem na semana passada.


     A possibilidade da reeleição é algo democrático ou antidemocrático? Uma medida boa ou negativa?
     Inicialmente, vou trazer alguns argumentos que encontrei na internet e irei apresentar minha avaliação dos argumentos.


Democrático
1 Povo pode escolher que o governante continue no poder - maior probabilidade de manter uma boa política
2 Possibilita políticas de longo prazo
3 Forma de avaliar o desempenho do político
     Basicamente, parte-se da democracia como o poder do povo escolher. A essência da democracia reside na possibilidade de o povo poder escolher seus governantes (democracia indireta). Para os governantes agirem conforme a vontade do povo, eles podem precisar de mais poder, o que neste caso se manifesta como mais tempo de poder. A possibilidade de reeleição indica a possibilidade de o povo avaliar o governo. Se gostam do governo, poderão reeleger o governante.


Antidemocrático
1 Quem está no poder tem maior visibilidade
2 Perpetuação de elites no poder, não há troca
3 O eleito passa a usar seu tempo para a propaganda, e não para desempenhar seu papel
4 Maior identificação com o partido, e não com o político
     Aqui há uma gama mais diversa de argumentos, no sentido de que provêm de fontes diferentes.
     O primeiro argumento indica que há uma desigualdade inicial entre os candidatos: Aquele que já está no poder tem maior visibilidade. As pessoas já conhecem essa pessoa e já sabem quem ela é.
     Outro argumento, é que o papel do governante é governar, e não realizar campanhas políticas. Quando o governante passa a usar seu tempo não para cuidar de assuntos do estado, mas para fazer propagandas e campanhas para se reeleger, então está descumprindo a função pela qual foi eleito.
     Se, ao contrário, o candidato for outro, que não o que está eleito, deve haver um esforço para que o partido tenha um ideal mais próximo, uma vez que naturalmente o partido tentará defender as medidas do governo do político eleito. Pessoalmente, não vejo esse argumento como muito bom, pois não vejo que seja efetivo. Partidos divididos continuarão divididos com a impossibilidade da reeleição.
     Por fim, há o argumento de que essa medida é anti elitista, uma vez que isso impede que as elites da política continuem no poder, forçando a troca de poder para as pessoas que inovem a política. Vou trazer um outro argumento que traz semelhantes a este.


Democracia

      Antes de prosseguir, vou tentar passar minha ideia de democracia. Embora essa palavra tenha vários significados, tomo aquele que prefiro. Democrática é a sociedade que o poder está em cada pessoa. Cada pessoa é capaz de escolher e agir por si mesma. A liberdade iguala a todos. Não cabe ao governo democrático determinar o que cada pessoa deve agir, pensar ou escolher. Quando cada pessoa tem em si o poder, isso implica que o governo não pode adentrar essa esfera individual.
     Daí, o governo nazista de Hitler, fascista de Mussolini, e a ditadura militar brasileira não eram democráticas. Elas suprimiam a esfera individual em nome de um plano do que seria um país melhor. Por exemplo, a censura é uma medida antidemocrática por invadir a esfera de expressão de cada indivíduo - é o estado determinado o que pode ou não ser veiculado, o que pode ou não ser dito.
      A premissa que quero extrair do que penso que é democracia é que o governo democrático deve diminuir os incentivos para que um governante acumule poder. As disputas políticas devem ter pouca importância, uma vez que o poder está em cada pessoa, e não no governo. Deve ser minimizado a carreira política e o "gosto pelo poder".
     A reeleição, por mais que tenha a intenção de valorizar a escolha individual, a autonomia de um povo de escolher seus representantes, gera um gosto do governante pelo poder. O governante tem mais risco de aplicar medidas populistas, cujo objetivo é mante esse sujeito no poder. A reeleição facilita o surgimento de perseguições políticas contra quem rivaliza com o governante. O maior mérito, em minha opinião, da reeleição é que o governante sobe ao poder sabendo que terá de deixá-lo após o mandato. O governante pode tomar as medidas que acha necessário, mesmo que não sejam populares. A democracia deve favorecer a troca pacífica de pessoas no poder, sem que nenhum governante se apegue demais ao cargo.


Últimas palavras

      Meus argumentos acima foram baseados no livro de Hayek que indiquei abaixo. Tomar meu argumento como válido ou correto não implica quem jamais votar em um candidato à reeleição. Quero que, enquanto durarem as eleições com possibilidade de reeleição, esse argumento seja um peso na balança da escolha, mas não espero que, só, esse peso determine absolutamente quem deve ser votado.
      No caso do Brasil, essa situação pode se complicar (embora isso não seja o objetivo deste texto) pelo fato de haver pessoas indicadas por determinados cargos que ficarão no poder por vários anos. Isso pode desequilibrar em favor de determinado partido ou pessoa o funcionamento de freios e contrapesos.
   

Texto a que me referi:
Direito, Legislação e Economia - F. A. Hayek, possível baixar em .http://www.libertarianismo.org/joomla/index.php/biblioteca/35-friedrich-a-hayek/682-direito-legislacao-e-liberdade obs.: O autor apenas fala disso no 3° arquivo.

Outros textos úteis (ou nem tanto):
https://acidblacknerd.wordpress.com/2013/04/29/euvi-reeleicao-10-motivos-para-ser-contra-10-motivos-para-ser-a-favor/
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/eleicoes-2014/noticia/2014/09/conheca-os-pros-e-contras-da-reeleicao-4603139.html