domingo, 29 de junho de 2014

Como obter o que realmente queremos?



     Há diversas notícias de pessoas  revoltadas com a atenção dada à copa, e não a outros setores, como saúde, educação, etc. É logico pensar que, para essas pessoas educação, saúde e outros são mais importantes do que a copa, logo devem receber mais atenção.
     Quero fazer com os leitores e as leitoras uma reflexão sobre a possibilidade de o governo realmente atender a essas demandas tão importantes. Será que o governo pode valorizar de forma apropriada esses anseios dos brasileiros?

     Encontramos primeiro uma dificuldade: não há consenso sobre quanto deve ser investido em saúde, educação, infraestrutura. Há propostas de x% do PIB, mas não há base para se pensar em uma porcentagem apropriada, apenas há um desejo de se aumentar a porcentagem dedicada a esses setores. Provavelmente se o governo aumentar para x%, haverão pessoas querendo mais.
    Além disso, saúde, educação, infraestrutura são gêneros em que há várias espécies dentro. Qual saúde? Familiar? Tratamentos pelo SUS? Formação de médicos? Equipamentos novos em determinados hospitais?
      Em uma social democracia, a porcentagem que vai para cada setor é definida pelo governo. O governo é eleito pelas pessoas desse país. O que prevalece é a vontade da maioria dos cidadãos na escolha do governante.
     Difícil agradar a todos. Qual a solução para esse empasse?

     Vamos supor que todos os cidadãos brasileiros pensem: "Se eu estivesse no governo, daria mais dinheiro para a educação". Que tal a seguinte proposta: Vamos diminuir os tributos pagos, assim cada cidadão poderá pagar do próprio bolso quanto que para uma educação decente. Não digo pagar a educação só para os filhos, mas também vale realizar doações a instituições que aceitem bolsistas ou instituições que financiem programas de educação a preços menores. A mesma lógica se aplica para instituições de saúde e infraestrutura.
     Não há campanhas do agasalho, campanhas de doação de alimentos, campanhas que tentam ajudar vítimas de sinistros? Vamos diminuir os tributos para que os cidadãos possam ter dinheiro para financiarem o que quiserem - o ainda não financiarem nada.
      Outra solução que talvez agrade mais pessoas é que cada cidadão possa decidir para onde os seus tributos pagos vão. Cada um teria uma espécie de urna para escolher a porcentagem de seus tributos para cada setor.

      No nosso sistema de democracia, a verba púbica que vai para saúde, educação e infraestrutura são decisões políticas. Não há uma porcentagem correta, apenas uma apropriada para os interesses políticos. Desejo que cada cidadão possa escolher o que seus tributos pagam. Haverá quem prefira a Copa do Mundo à saúde. Quero que se respeite essa pessoa, e que a única forma de mudar isso não seja por uma imposição do governo, mas para uma mudança de consciência.


Obrigado pela leitura. Sintam-se à vontade nos comentários.
Tenham uma boa noite!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

[vídeo] Crítica à propaganda pró-plebiscito constiuinte

Desta vez não vou direcionar para a página no Youtube. Vou colocar direto o vídeo em que critico a propaganda:




Vejam também a postagem em que digo para terem cuidado com o plebiscito constituinte:
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2014/06/cuidado-com-o-plebiscito-constituinte.html


Tenham um bom dia!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Cuidado com o plebiscito constituinte

     Mesmo que sejam poucos os meus leitores se comparado com outros grandes sites ou tipos de mídia, vou alertá-los: cuidado com o plebiscito constituinte! Podem pensar que sou um cara que acredita em teorias da conspiração ou qualquer coisa assim. Mas por favor leiam o que escrevi e depois comentem dizendo se discordam ou não.

     Primeiro, um indivíduo toma decisões mais sábias se estiver calmo, fora de um momento de tensão, certo? A mesma lógica se aplica a várias pessoas reunidas. Bem sabemos que os brasileiros e brasileiras estão agitados, basta ver as manifestações. Mudar a constituição é uma coisa muito séria. Queremos mesmo tentar agora mudar esse pilar da democracia?

      Segundo. Quem garante que esse plano vai dar certo? Dizem que a população vai conseguir participar diretamente de certas decisões. Não é bem assim. 

      Art. 10, I, do decreto 8.243: "presença de representantes eleitos ou indicados pela sociedade civil, preferencialmente de forma paritária em relação aos representantes governamentais, quando a natureza da representação o recomendar;"

     Serão representantes. Se grande parte das pessoas hoje não tem tempo para a política, quem terá tempo para ser um "representante da sociedade civil"? E quem irá fiscalizar? Haverá mesmo uma mudança tão grande assim? Vale a pena correr o risco?

     Terceiro, qual é o histórico de mudanças parecidas?

1) Argentina
     Primeiro, surgem ideias de mudar a constituição argentina para permitir mais reeleição. O povo não gostou muito. A presidente voltou atrás. Então apresenta uma nova proposta:
     "A proposta é que a totalidade dos membros do Conselho da Magistratura sejam eleitos pelo povo"
     Essa proposta foi negada pela Corte Suprema da Argentina por ser inconstitucional. seria “uno de los asaltos más flagrantes a la separación de poderes que se recuerdan en una democracia homologada”.
      O site ainda diz: "Em tempos de evidente crise da democracia representativa, a qual é vivenciada neste exato momento pela maioria das democracias constitucionais (inclusive no Brasil, como demonstra a insatisfação popular presente nos protestos que tomaram as ruas de todo o país), é comum que as vias de solução para os problemas enfrentados sejam buscadas através de raciocínios simplórios que encontram na vontade popular expressada por eleições diretas todo modelo de justificação e de legitimação do poder, inclusive do poder judicial." [poder judicial? lembra algum projeto legislativo no Brasil?]

2) Venezuela
    "Hugo Chávez convocou um plebiscito para aprovar a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O povo decidiu apoiá-lo. A Constituinte foi convocada, editou uma nova Constituição, que por expressa disposição nela contida[3], foi submetida a referendo popular. A nova Constituição, ao final, foi referendada pelo povo, em 15 de dezembro de 1999."
     "Constituinte "fecha" Congresso
     A Assembléia Constituinte da Venezuela decidiu ontem (30 ago. 1999) anular as funções do Congresso, o que, na prática, significa o fechamento do órgão.
      A constituinte, dominada por partidários do presidente Hugo Chávez, tomou para si os poderes das únicas três comissões que estavam autorizadas a funcionar no Congresso, segundo decreto emitido na última quarta-feira."

     "A armadilha da Constituinte é muito mais perigosa na Bolívia que na Argentina
     Esta maior periculosidade deve-se a dois fatores. O primeiro tem a ver com que, ainda que não totalmente definido, haveria acordo entre o imperialismo e a burguesia boliviana em desmontar a revolução a partir de um processo eleitoral, e a convocatória de uma Assembléia Constituinte é uma das variantes que se está discutindo. Isto quer dizer que a proposta de quase toda a esquerda pode chegar a coincidir com a arma com a qual o governo e o imperialismo tentam desativar a revolução.
      O outro elemento tem a ver com que, diferentemente da Argentina, na Bolívia existem setores do movimento de massas que vêem com expectativas a convocatória de uma Constituinte. Isto se dá especialmente em setores camponeses, em sua grande maioria quechuas, aymaras e outros povos nativos, que associam a Constituinte à resolução de suas reivindicações de nações oprimidas. Eles caem na ilusão de acreditar que, como são maioria na Bolívia, seriam também maioria em uma Assembléia Constituinte eleita por sufrágio universal." [grifos meus]

3) Rússia (não procurei pela Rússia, ela simplesmente surgiu na minha cara, e achei bom colocar)
     "Trata-se de uma situação similar à que se colocou na Rússia em 1917. Ali, durante todo o processo de luta contra o czarismo, a palavra de ordem de Assembléia Constituinte ocupava um lugar central para os bolcheviques. Mas a partir da derrota do czarismo, os bolcheviques orientaram sua política até o poder operário. No entanto, produto de que a Rússia nunca havia sido uma república, existiam grandes ilusões na democracia burguesa e no que se poderia conseguir com a Assembléia Constituinte. Apesar disso, os bolcheviques não chamaram a “impor uma Assembléia Constituinte ‘revolucionária’ ” para ajudar os operários e camponeses a convencerem-se de que tinham que tomar o poder. Pelo contrário, retiraram a Constituinte de sua agitação central e seu eixo foi convencer as massas russas de que a única maneira de conseguir paz, pão e terra era com todo o poder aos sovietes." [grifos meus (exceto o que está entre aspas)]



      Muito bem, agora vamos para o que eu NÃO disse. Eu não disse que o plebiscito é um golpe. Acredito que seja, mas é uma impressão minha, não tenho provas para dizer que é, sem sombra de dúvida. O que eu digo é "tenham cuidado".
      Tenham cuidado. Tem um ditado que diz "quando a esmola é grande, até o santo desconfia". Acham que o PT é um grupo de pessoas abnegadas e benevolentes, e esse mesmo grupo vai atender às demandas sociais sem qualquer interesse obscuro?
      E uma outra questão (esta eu deixo sem resposta): Por que isso tem um histórico parecido na Argentina e na Venezuela?


É isso. Tenham um bom dia!
     

domingo, 22 de junho de 2014

[vídeo] Democracia e Liberdade

      Desculpem o atraso nesta semana. A postagem será um vídeo: falo sobre a relação entre liberdade e democracia.
     Vale dizer que falo não de um conceito geral de democracia, mas de um tipo de democracia que é "A" democracia.


http://cur.lv/ao9f9


     Espero que gostem. Tenham uma boa noite.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O grande problema


     Esse denominador comum parece-me ser um vício da pessoa consigo mesma. Não é um problema entre o indivíduo e a sociedade. O problema é que muitas pessoas não possuem uma estabilidade emocional. Não possuem autoconfiança.

"A mente verdadeira pode superar todas as mentiras e ilusões sem se perder. O coração verdadeiro pode lidar com o veneno do ódio sem sofrer danos. Desde tempos imemoriais, as trevas viscejam no vazio, mas sempre se rendem à luz purificadora". (Tartaruga-Leão da série Avatar, a lenda de Aang)


     Qual é o grande problema que vejo nas pessoas hoje? Sobretudo nos jovens?

     Poderíamos citar vários problemas: incapacidade de lutar contra os vícios, incapacidade de dizer "não", não gostar de falar em público, agressividade, não conseguir receber críticas, irritabilidade, medo de assumir riscos e responsabilidades, inércia, incapacidade de ficar só e medo de solidão, impulsividade, ódio generalizado, sociedade do consumo, superficialidade, busca desmedida por prazer etc.
     O que acredito é que esses problemas (não todos os problemas que afligem as pessoas, mas grande parte deles) possuem uma raiz em comum. Ao se tratar essa pedra angular que sustenta todos esses problemas, o ser humano poderia se corrigir.
      A autoconfiança é uma capacidade da pessoa apoiar em si mesma. A autoconfiança emocional significa não se sujeitar às opiniões alheias, não precisar demonstrar agressividade para enfrentar seus problemas. É uma paz de espírito. A pessoa se importa mais em seu reflexo do que em sua imagem social. Essa pessoa não precisa se apoiar em outra coisa, ela possui sua própria órbita. Não precisa demonstrar agressividade ou inteligência para o mundo, ela não precisa que o mundo pense bem a seu respeito (ela gostaria, mas não ultrapassaria sua própria serenidade e seus próprios princípios para isso).
     Embora essa pessoa se aceite como um todo, não significa que ela não quer melhorar suas partes. Essa pessoa não muda para satisfazer as demandas do mundo, mas para buscar o próprio bem estar. Essa pessoa aceita as críticas. Ela sabe que é imperfeita, que comete erros. Contudo, ela não é seus erros ou acertos, ela é ela mesma. Críticas atingem seus erros, não sua essência. Quando alguém critica seu íntimo, a pessoa com alta autoestima ouve, para entender se concorda com a crítica. Se concorda, tenta mudar não pelo crítico, mas por si mesmo. Se discorda, ignora as críticas por não serem reais.
      Essa pessoa pode não gostar de falar em público. Isso é um gosto pessoal. Todavia, ela sabe que se tiver que falar não há o que temer.
      Não digo que há pessoa que seja completamente autoconfiante. Há um limite individual sobre a quantidade de pressão relativo a determinado tema. Contudo, a pessoa autoconfiante é mais serena, ela consegue resistir às pressões quotidianas sem explodir. Seu dia-a-dia é tranquilo.
      Também não digo que eu sou tal pessoa. Posso dizer somente que melhorei sobre esse respeito. Lembro que há alguns anos, uma grande amiga minha disse "Se você for mudar, deve fazer por si mesmo, e não pelos outros" em um momento em que eu era (ou estava?) bem menos estável emocionalmente do que agora. Talvez não sejam as exatas palavras, o que minha memória gravou foram as ideias. Tais singelas palavras ficaram no fundo de minha consciência como um lembrete de que somos imperfeitos e devemos buscar melhorar, contudo a força da mudança vem de dentro, e não de fora.

      Se há algum educador lendo, peço, mesmo sabendo que posso estar completamente equivocado, que ensinem as crianças a se aceitarem. Ensinem que cada indivíduo é um fim em si mesmo. Cabe aqui uma frase de Sartre:

      "O importante não é o que fizeram de nós, mas o que fizemos com o que fizeram de nós"

     Cada ser humano possui em si a força para mudar. Não é a sociedade que deve mudar o homem. A base do ser humano deve ser ele próprio, e não a opinião alheia. A autoaceitação é o primeiro passo para uma vida plena. A dependência psicológica e emocional é o caminho para uma vida vazia.


É isso. Espero que tenham gostado.
Tenham um bom dia!


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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Pontos de que discordo dos libertários radicais 1

     Os leitores que acompanham meu blog a mais tempo sabem que tenho posicionamentos em favor de um estado menor, maior liberdade para as pessoas, capitalismo etc.
     Contudo, devo trazer alguns pontos que discordo do raciocínio libertário radical. Normalmente não me preocuparia com isso nesse momento, iria primeiro defender mais o liberalismo ou o libertarianismo e depois critar o que acho. Mas sabe a história de que o conservador é o liberal que foi assaltado na noite anterior? Bem, foi mais ou menos isso. Estava eu dormindo em minha cama quando acordei no meio da noite. Talvez o motivo tenha sido a música que tocava no vizinho. O fato é que demorei para voltar a dormir por conta dessa música. A propósito, era funk.
     Mesmo eu, defensor da liberdade, pensei que isso deveria ser "proibido" (é argumento de criancinha mimada dizer que tudo o que não gosta deveria ser proibido), mas logo superei essa tendência de proibir tudo o que não gosto e resolvi simplesmente pensar em uma solução mais prática, que me critica alguns pontos dos libertários.
    A música não era alta, mas me incomodou bastante.


O assunto em questão são as externalidades

     O que são externalidades?
     Uma pessoa, por exemplo, fuma. A ação terminaria aí. Ela fuma e satisfaz seu desejo de fumar. Mas as consequências não param por aí. A fumaça envolve todo o ambiente, atingindo outras pessoas. A fumaça é uma externalidade, uma consequência de uma ação em outra sem que seja esse o objetivo.
     Os liberais e libertários dizem que uma forma de diminuir a poluição de rios seria a privatização de rios. Se você tem um rio só para você, irá cuidar bem dele. Se uma fábrica vir a soltar poluentes em seu rio, você pode exigir indenização por ela estar prejudicando seu patrimônio. A poluição é uma externalidade, pois afeta terceiros sem que seja o objetivo da conduta.
     Um outro exemplo de externalidade que eu vi estudando direito é o de uma fábrica de queijo ao lado de uma casa. A fábrica de queijo produz um cheiro muito forte. O possuidor da casa ao lado não pode usar e fruir plenamente de sua casa por ter um cheiro forte vindo do vizinho. Então há uma ação do direito para essa situação, o que eu não vou me aprofundar aqui.
     Até aí, tudo bem.

     Mas há a seguinte situação: há em uma sala uma pessoa comendo salgadinho. Essa pessoa faz muito barulho ao mastigar, o que prejudica as pessoas ao lado. Qual a solução dos libertários para esse conflito? As pessoas prejudicadas podem pagar para o sujeito inconveniente parar de comer, e, assim, cessar o barulho irritante.
     Quero apresentar minhas críticas a essa solução.
     Na verdade, vou explicar minha crítica ao voltar para o caso de meu vizinho que toca funk de madrugada (sinceramente, ninguém merece isso).
     A música O ruído estava me impedindo de usar e fruir meu bem. O objetivo principal de meu apartamento era dormir (já que fico o dia inteiro na faculdade), não estava conseguindo essa finalidade por um fato imputável ao meu vizinho. Acho a analogia é a seguinte: eu estou para esse ruído assim como o dono do rio estava para a poluição no rio. Reitero: meu vizinho estava ME impedindo de dormir em MEU apartamento. O cada da fábrica estava impedindo o dono do rio de pescar em seu próprio rio.
     Esses agentes são os culpados pelos incômodos. São os agentes que causam prejuízos aos outros.

    Feito meu desabafo, vou explicar por que nem sempre se aplica indenização para externalidades. Voltemos para o caso em que há um sujeito que faz barulho ao mastigar. Há duas situações: 1. você está na sua casa. 2. você está na casa dele. Você só pode exigir que ele pare quando ele está na sua casa.
     Parece-me que só é possível exercer um certo direito de mando caso esteja na sua casa, e não na dele. Parece-me que o problema não está em simplesmente ser uma externalidade (a externalidade é a mesma quantitativamente em ambos os casos). O que permite a indenização é ter um patrimônio (propriedade) seu afetado por essa externalidade. Se você não consegue usar sua propriedade e fruir dela, então me parece cabível uma exigência que ou cesse o mal causado ou que se barganhe o barulho por um preço.
     Nesse sentido, vejo um papel importante do estado, que é a garantia do direito de propriedade.

     Na verdade, minha crítica aos libertários radicais é que muitos defendem simplesmente que quem está comendo está agindo livremente, então ele quem deveria ser pago para deixar de incomodar. Na verdade, isso depende da afetação de um patrimônio. Se estão em um lugar público ou em um ambiente em que o sujeito irritado não tem sua propriedade afetada, ele não pode exigir que cesse o barulho. Nem sempre o dito "os incomodados que se mudem" é válido, apenas quando os incomodados não têm sua propriedade afetada. Vejo perfeitamente a possibilidade de um libertário defender o que disse, mas minha crítica é que isso não é não explicitado nas discussões.


Se houver alguém que discorde, por favor, comente. Posso estar completamente equivocado em minhas colocações.


Tenham um dom dia!

Links úteis:
Explicação sobre externalidades:
Opinião mais radical do que a minha:


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terça-feira, 10 de junho de 2014

[feminismo] Objeto sexual



     Uma das críticas das feministas à sociedade machista em que vivemos é a de que na sociedade capitalista usa a mulher como objeto sexual. É claro que poderíamos colocar em dúvida se a sociedade é realmente machista, o que é o machismo, qual a relação entre machismo e capitalismo (que para muitas feministas é tão automática) etc.

     Vamos considerar a imagem ao lado. Está escrito "Eu preciso do feminismo porque o corpo não é só um pedaço de carne!".

     Ok, vamos colocar de forma organizada os pressupostos e as críticas dessa frase:

a) O feminismo é necessário para essa pessoa
b) O corpo não é só um pedaço de carne
c) Há uma relação causal entre feminismo e "corpo não ser um pedaço de carne"
(frases excluídas por serem inúteis)

a) "Carne" aqui se refere à relação sexual, creio que todos saibam, mas não é demais lembrar.
b) É negativo ser visto como objeto sexual. O ser humano é composto por outras dimensões além da carnal, como a afetiva e sentimental, a racional, ou mesmo a que trata da beleza em um sentido mais sublime e gracioso. Assim, não é legal ver o outro como objeto sexual.
c) O feminismo luta contra a mulher ser um "pedaço de carne", um objeto a serviço da mera satisfação dos prazeres sem se valorizar a individualidade.
d) O feminismo é o melhor meio que a pessoa da foto possui para não ser "um pedaço de carne".

     Não vou tratar do "d" profundamente, só vou dizer que o verbo "precisar" é muito forte. Quando penso muito nessa palavra, me vem a ideia daquele bichino de "O senhor dos anéis" que diz "meu precioso!"

     Ok, vamos partir de uma reconstrução histórica de uma sociedade anos atrás. Nela não havia pílula do dia seguinte, camisinha. Eis que surgem os movimentos feministas que defendem que o corpo da mulher não é um objeto sexual. Surgem também os anticoncepcionais.
      Agora, vamos para hoje. O que eu quero constatar aqui? Hoje, homens e mulheres "ficam" nas festas. Hoje, muitas mulheres não gostam de cantadas na rua, por acharem que isso é tratá-las como objeto.
      O "ficar" se tornou uma prática abominável em que pessoas que nunca se viram mais gordas muitas vezes fazem aquilo que os casais de algumas gerações atrás só faziam após o casamento. E o objetivo do "ficar" muitas vezes é exatamente esse: dormir com alguém que o ficante ou a ficante nunca viram e nunca tornarão a ver. Tocante, não é? Dá vontade de chorar de agonia ao ver o mundo se corrompendo diante de meus olhos. Ou seja, o "ficar" acabou se tornando uma conduta em que o outro serve apenas para a satisfação dos interesses do outro. Isso Huxley definiu muito bem com o lema "todos são de todos" em sua obra "O Admirável Mundo Novo" (fica a dica de leitura).
     Aqui, vocês, caso não tenham clicado no X do navegador ao ler tamanho absurdo, podem estar pensando que sou um retrógrado, ultraconservador e me colocarem em outros grupos assim. Peço, contudo, que leiam o item "b" acima.

     Oh, mas espera. Há mulheres que odeiam serem cantadas na rua por isso as considerar um mero objeto sexual. Essas mesmas mulheres podem também ir a festas em que elas veem os outros como objetos para mera satisfação dos prazeres, muitas vezes como objetos sexuais, e também são vistas pelo outro da mesma forma - e gostam? Que atitude esquizofrênica essa!
      Caro leitor ou cara leitora que podem estar meio confusos com a situação, é claro que deve haver alguma justificativa racional que permita a compatibilidade desses dois comportamentos. Devemos (nós - eu e você) admitir que somos ambos burros por não conseguirmos imaginar qual seria essa justificativa (caso você saiba a justificativa, eu serei burro sozinho).
      Mas vamos tentar explicar mesmo assim. Alguém mais crítico do que eu poderia dizer que a mulher em questão acha o pedreiro feio, e acha o mocinho da festa, bonito, e por isso aceita a segunda situação e não a primeira. Na verdade a justificativa dada pela mulher seria apenas para manter a imagem social. Não vou defender esse ponto de vista. Parece-me mais acertado pensar (talvez não diferindo muito da pessoa que alegue a defesa acima) que a primeira situação apresenta apenas um sujeito beneficiado pelo comportamento - o cara que canta. Já na segunda, tanto a mulher quanto o homem que ficam se acham beneficiados.
      A questão não é ser objeto sexual. A questão é ser objeto sexual e não ter o outro como objeto sexual. O que é importante é a igualdade. Então estamos caminhando para uma sociedade mais igualitária devido ao feminismo. Viva à igualdade! Todos poderemos ser objetos uns dos outros. "Todos são de todos!".
      Vamos com calma. Acho muito legal quebra de tabus que o feminismo trouxe. Contudo, acho que não é legal todos serem objetos para satisfação dos interesses dos outros, mesmo que possam fazer o mesmo, e que isso se dê espontaneamente. Não digo que tal atitude deva ser proibida, estou longe de dizer isso. Digo que, moralmente, é uma atitude reprovável.
      O ideal parece ser uma sociedade em que as pessoas tratem umas às outras como sujeitos, valorizando a amizade, a fraternidade, os sentimentos e emoções do outro. Se quem me lê é feminista e concorda com esse meu ideal tímido, porem grandioso, lembre-se de não defender somente a igualdade, mas a igualdade como pessoas. A luta não deve ser para um "liberou geral", mas para um estado de valorização do outro como ser humano.
 

Obs.: Embora eu seja a favor da monogamia e contra a poligamia do ponto de vista MORAL, não fiz nenhuma crítica à poligamia. Minha crítica é às relações superficiais. Se a monogamia é possível sem uma relação superficial, não faço aqui nenhuma crítica a ela.


É isso. Tenham uma boa noite!


Links de outras postagens para quem se interessar na discussão:
A situação dos liberais é parecida. Liberal não é libertino: http://copaziodesaber.blogspot.com.br/2014/01/erros-comuns-sobre-o-liberalismo.html


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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Uma discussão sobre éticas



Imagine o seguinte diálogo:

A - O Bolsa Família é injusto. Ninguém é obrigado a contribuir para ajudar os outros. Ele não tem fundamento ético, se baseia em um roubo.
B - Mas veja bem. Uma pessoa muito pobre não tem condições de competir em igualdade com outra pessoa muito rica. Como alguém que não consegue se alimentar corretamente poderá se dedicar ao estudo, à melhoria pessoal? Por isso, a BF é tão importante. Ela garante o mínimo necessário.
A - A questão não é essa. O fato de terem pessoas passando fome não justifica que se tire dos ricos para dar aos pobres.
B - Os pobres estão passando fome. É confortável para você dizer isso em no conforto de sua casa. Os pobres precisam muito desse apoio. O Joaquim Barbosa é uma exceção, pouquíssimos conseguem atingir posições de destaque na sociedade. Temos que garantir o mínimo.
A - Espera, que tipo de argumentos são esses? Ad hominem contra mim. E também fica fácil dizer que todos os pobres não conseguem posições de destaque excetuando aqueles que conseguem.
B - Só estou dizendo que são poucas pessoas que conseguem.
A - A meritocracia não é uma igualdade de condições para todos instantaneamente. A meritocracia é a possibilidade da pessoa lutar na vida e conseguir uma posição melhor. Depois, os filhos atingirão algo mais elevado. A meritocracia é uma luta entre gerações. Não é uma possibilidade igual de todos serem jogadores de futebol profissional, ou de todos frequentarem a mesma universidade. Mas a questão não é essa. Eu concordo que haja desigualdade, seja ela boa ou ruim. Também concordo que os subnutridos não conseguem competir da mesma forma que um sujeito que recebe aulas particulares de física moderna. O que quero saber é quais são os fundamentos para se exigir que alguém financie o BF.
B - O fundamento é a busca pela igualdade de oportunidades, é a ajuda dos outros a não passarem fome. É muito fácil dizer que cada um vai se virar na meritocracia, mas a verdade não é essa. O pobre não tem a mesma condição que o rico.
A - O que você está dizendo são as consequências pretendidas pela BF, mas não são os fundamentos, não são os princípios que possibilitam obrigar o outro a contribuir.
B - Você está sendo egoísta em não se importar com os outros.
...

     E a conversa continua, mas acho que já é suficiente. O que quero mostrar é que supostamente existem dos grandes grupos morais. Um deles é principiológico, ele quer saber quais são os fundamentos para se agir de determinada forma. A ética principiológica não se preocupa tanto com o resultado, mas sim com os princípios, com a base moral, com regras do agir corretamente. Outro grupo é o utilitarista, finalista. Esse grupo se preocupa com os resultados. É claro que há conceitos morais no utilitarismo, mas eles só entram mais intensamente como finalidade. A ética principiológica se preocupa muito com cada ação. O homem deve agir corretamente mesmo que traga resultados ruins. O utilitarismo defende que a ação é boa ou má em razão dos seus frutos.
     É claro que não podemos cair em uma falsa dicotomia. Há muitos tons de cinza entre o branco e o preto, assim também há muitas vertentes entre o puro utilitarismo e o puro principialismo.
     Pode parecer, à maioria das pessoas, que deve existir um meio termo entre o "fiat iustitia et pereat mundus" (faça-se a justiça mesmo que o mundo acabe) e o "os fins justificam os meios". Contudo, quero aqui expressar minha tendência para uma ética principiológica. O homem deve agir corretamente, mesmo que isso traja resultados ruins. Não se pode corrigir uma injustiça com outra injustiça. Ao se justificar uma conduta pelos seus fins abre-se brecha para algum dia se confundir o bem com o mal. Uma violação à moral que é acobertada por um manto de bons resultados tende a se repetir e repetir até que se corrompa toda a alma de uma pessoa.
      Ao tentarmos justificar a nós mesmos que nossa ação má foi correta, corrompemos nossa alma. Entenda alma aqui no sentido mais geral possível, não estou em um debate religioso. Alma tem o mesmo radical de "ânimo", de "animal". A alma seria aquilo que faz as coisas se moverem por conta própria. Ao corromper a alma, estamos corrompendo nossa bússola sobre o como agir.
     Com isso, não digo que não violo minha própria ética. O que digo é que procuro seguir uma ética regida por princípios, por ações boas nelas mesmas.
     Também não desprestigio a necessidade de saber se algo é bom ou ruim. Muitas vezes as consequências mundanas são um indício que aponta se uma ação é boa ou não. Mas a ação boa ou má independe das consequências. O bem é bem em si, e não pelo que produz.
     Alguns poderão argumentar que a ação boa traz resultados bons a longo prazo. Nem sempre poderemos prever todos os efeitos de uma ação boa. Contudo, tenho minhas discordâncias dessa defesa. O bom é bom por uma dimensão "além do céu e da terra", pela pureza da alma (aqui já em um sentido mais espiritual), e não pelas consequências terrenas.
     Saber se algo é bom ou ruim moralmente é diferente de saber se pode ser proibido pela lei. São coisas diferentes, embora interligadas. Algo moralmente mau pode ser permitido pela lei, assim como algo moralmente bom pode não ser obrigatório.


Espero que isso possibilite um debate interno que os ajudem a crescer moralmente.
Tenham um bom dia!


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