segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cotas raciais

     Cotas raciais (e outras medidas como bonificação), sou a favor ou contra?
     Desta vez irei me guiar por algumas perguntas para sistematizar o conteúdo.
1 - Qual o objetivo de se adotar cotas raciais?
     Qual é o problema que a política de cotas iria combater? A discriminação racial. É indiscutível até onde sei que existe racismo na sociedade. O preconceito que se pretende combater é na cor da pele, no fenótipo. Não se quer combater a pobreza com essa política, se quer combater o racismo.
2 - Sou a favor ou contra?
     Sou a favor. Para mim é uma solução (ou um acelerador, mais abaixo explico) para a discriminação, não é um simples paliativo. Se for bem feito, haverá mais profissionais das etnias que hoje são discriminados. No futuro, os cidadãos veriam que há profissionais de todas as etnias (se não igualmente distribuído, pelo menos em maior número do que hoje). Isso evidenciaria à sociedade que a etnia não está associada com a pobreza ou preguiça ou ineficiência em relação de causa e consequência.
     Tudo bem que depois de certo tempo o racismo poderia tender a diminuir, mas as cotas poderiam agir como um catalisador, um acelerador. O objetivo não é durar para sempre, mas somente até corrigir o problema ou pelo menos reduzi-lo consideravelmente. Mas é igualmente importante que os grupos façam as campanhas e a conscientização da população (de preferência sem apelar para o politicamente correto e para falácias).
3 -  Quem deve determinar a porcentagem da cota ou a bonificação?
     A própria instituição deve determinar a porcentagem.
     Teve uma pesquisa na UnB avaliando as notas dos estudantes cotistas em comparação com os que entraram normalmente. Os cotistas tiveram notas melhores. Tudo bem que notas não significam bons profissionais, mas é uma forma de avaliar desempenho e indica que existe a possibilidade de paridade entre alunos das diversas etnias.
     Ocorre que vi também uma pesquisa da adoção de cotas na UFMG, se não me engano. Nesse caso, os alunos que entraram pelas cotas e os que não entraram pelas cotas tiveram médias semelhantes, não foi possível dizer quem se saiu melhor.
     Não se pode esperar que a mesma porcentagem tenha o mesmo efeito na USP, na UFMG, na UnB e na UFPR. Os ambientes de cada faculdade são diferentes. Quem deve determinar as cotas deve ser cada unidade, e não uma decisão de Brasília.
4 - Nesse caso, de cada unidade poder determinar a cota, o que iria incentivar as faculdades a adotarem porcentagens altas?
     A faculdade deveria (não sei se irá mesmo) buscar os alunos que se tornarão os melhores profissionais. Lembra-se do exemplo da UnB? A cota pode ser um meio para se obter bons alunos.
     Se as faculdades, por motivos políticos, não quiserem, há algumas soluções:
a) Paciência, cada um com suas escolhas.
b) Uma cota mínima obrigatória
c) Incentivos monetários, para cada aluno ou porcentagem, dar uma bonificação para a faculdade.
5 - Tudo bem, mas como determinar quem é de cada etnia?
     Essa, para mim, é a questão mais difícil. Creio, contudo, que cada faculdade (elas podem até se unir para facilitar o processo) deva determinar seu método. Seja pela cor da pele, pela descendência, por uma comissão avaliadora, por algum documento.
     A cor da pele pode ser um pouco problemática como critério de avaliação. Em cada lugar pode ser diferente quais as tonalidades que um negro pode ter.
     A descendência pode ser eventualmente complicada também, como no caso de adoção sem que se conheça os pais.
     Os documentos, seja quais forem, caem nas mesmas dificuldades.
     A comissão pode parecer meio cruel se for feita para avaliar os concorrentes. Mas ela pode ser feita antes do vestibular. Poderia ter muito custo, o que pode complicar. Pode ainda ser feita com apenas os melhores na prova (se forem 100 vagas, sendo 25 para negros, poderia chamar os 50 primeiros que se dizem negros.)
     Essa é uma questão bastante complicada ao meu ver.


Obrigado, tenham um bom dia!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

[direitos] Direito à propriedade

     Pretendo iniciar uma discussão sobre alguns direitos que as pessoas têm (ou supostamente têm). Inicio com o direito à propriedade. As postagens com esse conteúdo terão "[direitos]" antes do título. Boa leitura.

Propriedade é um direito? Que tipo de direito é?
     Antes de tudo, vou separar, sob meu próprio risco, os direitos em dois tipos: os naturais e os positivos.
     Os direitos naturais seriam aqueles que já nascem com a pessoa e são essenciais para ela em qualquer lugar ou momento. Por exemplo, o direito à vida e o direito à liberdade. Uma pessoa, qualquer que seja a situação, tem esses direitos. Assim, os direitos naturais têm força universal, são válidos sempre.
     Já os positivos são os direitos postos. Eles não são naturais do homem, mas são estabelecidos. Por exemplo, o direito ao voto. As pessoas só têm direito ao voto quando foi estabelecido esse direito. Por conseguinte, os direitos positivos só são válidos onde alguém os estabeleceu.
     Há vários direitos que as pessoas não sabem como classificar, estão divididas entre um ou outro. O direito à honra, por exemplo. Mas isso fica para outro dia.
     O direito é quase um bem inalienável. Ninguém pode atentar contra esse bem de forma justa ou legítima. Ninguém pode ir contra a sua vida, sua liberdade ou o seu direito de voto. Só o próprio sujeito legitimamente pode abrir mão desse direito. No caso dos direitos positivos, como o ter ou não o direito não depende de você, ele pode ser tirado. Mas não pode ser tirado por qualquer um, só por uma entidade competente e de forma justa. É claro que tirar um desses direitos gera muita briga - quem aceitaria passivamente que lhe tomem um direito?

     Bem, com o tema um pouco delimitado, vamos pensar na propriedade.
     A propriedade hoje em dia é certamente um direito. Ninguém pode pegar o que é meu de forma legítima. Mas a propriedade é um direito natural ou positivo? Ou será que é os dois?
     Algumas pessoas, e eu me incluo nelas, acham que o direito à propriedade se inicia no próprio corpo. Eu tenho direito sobre o meu corpo. Qualquer pessoa que atente contra ele sem minha permissão está agindo de forma ilegítima. Assim ninguém pode me obrigar a doar meu sangue ou meus rins. Esse tecido e esse órgão me pertencem e ninguém pode tirar. O Estado, se criar uma lei obrigando as pessoas a doarem sangue, está agindo de forma ilegítima. Nesse sentido, o direito à propriedade do próprio corpo atua como um campo de força contra ação do Estado. Meu direito só pode ser violado com minha permissão.
     O problema surge quando há um conflito de interesses. O direito ao próprio corpo da mulher contra o direito do feto. O direito ao próprio sangue contra o direito à vida de um paciente que perdeu muito sangue em um tratamento. Os que são contrário ao aborto e também os que são favoráveis à doação obrigatória de sangue podem dizer que o direito à vida se sobrepõe ao direito ao próprio corpo, mas não que não existe direito ao próprio corpo.
     Então a priori, o direito à propriedade se parece um direito natural, pelo menos quando restrito ao próprio corpo.

     Mas o direito à propriedade não diz respeito ao próprio corpo, mas a objetos exteriores. Esse direito é natural ao homem ou é criado, estabelecido?
     Para refletir essa questão, vamos imaginar um regime totalmente contrário à propriedade privada, o comunismo. Imaginemos que é no dia houve distribuição de pães. Vamos supor que existam pães para muita gente, tantos pães que irá sobrar pães após a distribuição.
     Uma pessoa pega o seu pão sem nenhuma dificuldade. Ela é uma pessoa trabalhadora, reconhecida por seu esforço. Também há um modelo muito eficiente de distribuição que permite que qualquer um em questão de segundos consiga seu pão. Há tantos pães que as pessoas podem pegar vários, já que irá sobrar, definitivamente.
     Essa pessoa vai comer seu pão quando outra aparece e subtrai da primeira o pão. A questão que levanto aqui é se houve ou não violação do direito à propriedade. Se houve a violação significa que havia direito à propriedade. Se não houvesse direito à propriedade, não haveria como ser violado.
     Me parece que houve essa violação. Mesmo que haja pães em excesso, quando a pessoa recebe seu pão, este se torna daquela. Ninguém poderia legitimamente tirar dela (não vamos imaginar que houve má distribuição e que essa pessoa ficou com mais do que lhe cabia, no caso em questão houve excesso de pães).
     Algum comunista poderia dizer que a situação não é de um comunismo de verdade. Mas me pergunto se é possível uma sociedade em que não haja propriedade individual.
     Imaginemos outra situação. A pessoa vive em "sua" casa e resolve plantar um pé de pimenta. Após vários anos de dedicação regando e adubando a planta, finalmente surgem as primeiras pimentas. A pessoa fica feliz e resolver usá-las no almoço do próximo dia. Ocorre que no dia seguinte já não há pimentas. Outras pessoas ficaram sabendo que havia pimenta lá e colhem para temperarem seus próprios pratos. Não houve injustiça nesse caso?
     Nessa parte minha opinião de que o direito à propriedade é um direito natural foi fortalecida.
     O fato de o direito à propriedade ser um direito natural não impede as pessoas de, livremente, ajudarem umas às outras, nem as impedem de realizarem pactos de distribuição para ajudar quem está em necessidade.


     Não irei abordar aqui a forma de se adquirir a propriedade. Meu objetivo é apenas pensar se o direito à propriedade é natural ou positivo.
     Acho que é muito interessante a discussão sobre a propriedade intelectual, mas fica para outro dia. Estou demorando muito nesse texto.
     Obs.: A existência de direitos naturais é controversa, não são todos que concordam que ela exista.
     Aceito opiniões diferentes, perguntas, comentários.


Tenham um bom dia!!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Tempestades e preço do guarda-chuva

     Muitas vezes sabemos de momentos em que o preço de um produto sobe quando mais precisamos. Nesses momentos, culpamos os capitalistas maus que desejam lucrar sobre nossas necessidades.
     Vamos ilustrar a situação com o senhor Azul. O senhor azul sempre se esquece de pegar o guarda-chuva quando sai, mesmo que sua esposa lhe avise. Digamos que o senhor azul esteja caminhando quando começa a chover. Ele pensa: "Que azar, começou a chover. Ainda bem que acabei de passar por uma loja que vende guarda-chuva por 5 zenys" (Zeny é a moeda fictícia do jogo Ragnarok).
     Azul caminha até a loja e se surpreende com o preço. O guarda-chuva agora está custando 9 zenys, um absurdo. Ele pergunta se o preço está certo. Está. Azul fica irritado, mas mesmo assim compra o guarda-chuva já que ele não gosta de ficar molhado. Volta para casa prometendo a si mesmo que da próxima vez irá levar consigo o guarda chuva.

     O sr. Dourado é um político muito atento às demandas populares. Ele, assim como muitas outras pessoas, acha um absurdo gigantesco esse aumento de preços dos oportunistas. Dourado consegue aprovar uma lei que torna crime o aumento de preço de guarda-chuvas quando está chovendo.

     Azul vai mais uma vez caminhar. Ele esquece de novo de levar o guarda-chuva. Choveu. Azul vai para a loja comprar guarda-chuva. O preço é o mesmo, então ele compra. Dessa vez não faz uma anotação mental para levar guarda-chuva da próxima vez.
     Além de Azul, havia outras pessoas que caminhavam. Algumas dessas achavam que comprar o guarda-chuva durante a chuva era desperdício de dinheiro. O dinheiro gasto não valia a pena. Então continuavam caminhando sem se importar com a chuva.
     O dono da loja aumentou o número de vendas, mas diminuiu o total ganho com a venda (já que vendeu mais barato).

      Também saiu para caminhar o Verde, um idoso que ficou sabendo que caminhar fazia bem para sua saúde. Desatento, ele esqueceu o guarda-chuva. Quando começou a chover, se preocupou. Resolve comprar um guarda-chuva na loja que acabou de passar. Verde sabe de sua condição e se dispõe a pagar mesmo um preço alto em nome de sua saúde, que não é a mesma de quando era jovem. Chegando na loja, não há guarda-chuva. Verde diz que pagaria mesmo um preço maior, mas o estoque já acabou. Verde acaba "pegando" pneumonia e morre.

     O aumento do preço permite uma distribuição dos recursos de acordo com a necessidade de cada um. Quanto mais se quer uma coisa, mas se está disposto a pagar. Quando Dourado abaixa o preço por lei, as pessoas que não estão tão necessitadas compram, o que diminui o estoque para aqueles que mais precisam.
     Há duas críticas que penso nessa história:
1 - Há pessoas mais necessitadas do que outras, mas que não têm dinheiro.
R - Sim. Mas diminuir o preço do guarda-chuva não vai resolver esse problema. Na verdade, os mais pobres podem até ganhar dinheiro vendendo guarda chuva mais barato do que as lojas quando começa a chover. Eles compram esperando que o preço aumente. As pessoas devem buscar suprir suas necessidades, e não usar seus obstáculos como justificativa para opor-se ao mundo. (para mais informações, http://copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/08/trocas-e-soma-zero.html)

2 - O vendedor pode ter mais guarda-chuvas para suprir a demanda.
R - Poderia. Mas se pensarmos do ponto de vista do meio ambiente, não é melhor diminuir a produção de produtos que não precisariam ser produzidos? Azul, Verde e cia tinham guarda-chuvas em casa, mas se esqueceram de levar. Comprar mais nesses casos não é um problema que deveria ser combatido? O aumento de preço é uma forma.
     Vai, outra resposta é que se o vendedor não aumentar o preço, o fabricante irá. Imagine vários vendedores comprando mais estoque. O aumento da demanda levará ao aumento do preço. O fabricante aumentará o preço para lucrar mais. Se congelar o preço do guarda-chuva do fabricante, chegará um momento em que não irá compensar produzir mais guarda-chuva sem aumentar o preço.


     Tenham um bom dia!!

domingo, 6 de outubro de 2013

Trabalho e recompensa

     Com frequência ouvimos os pais dizerem aos filhos: "primeiro o dever, depois o prazer" ou coisas do tipo. Vamos explorar um pouco essa ideia?
     Seria apenas um meio para o filho fazer as tarefas? Se você não fizer as tarefas não vai jogar vídeo game. Ou será que existe algo mais profundo?

     Creio ser natural que primeiro se trabalhe e depois se desfrute o fruto do trabalho. Primeiro deve-se plantar e colher, depois comer. Antes deve-se subir na árvore, apanhar a fruta, fazer o suco. Só depois se pode beber o suco. Há naturalmente um mecanismo de incentivos: você só vai obter a carne assada se antes caçar e acender a fogueira. Se não fizer nada, não vai ter seu jantar.
     Parece-me, após pensar isso, que é de suma importância ensinar às crianças a importância do trabalho. Ao analisarmos profundamente, o trabalho não é uma obrigação, é uma necessidade. A questão que surge é como melhor relacionar o trabalho demandado e a recompensa. Deve haver um equilíbrio, um trabalho mais difícil exige uma recompensa maior. Sem essa relação, não há estímulo para as pessoas se esforçarem mais (exceto, talvez, o próprio prazer de realizar a coisa).
     O dever exigido e a recompensa não precisar ser ligados por uma relação natural, necessária. Os pais podem criar a relação: Se meu filho ler um livro por mês, poderá sair com os amigos no mês seguinte. (só um exemplo para ilustrar, não vou discutir agora se leitura é só um fim ou pode ser um meio).

     Mas pode surgir a questão: Mas o trabalho não é necessariamente a fonte das coisas que temos. Outra pessoa pode nos dar.
     Sim, os pais podem dar dinheiro para os filhos. As pessoas podem obter empréstimos nos bancos etc. O dinheiro que guardo no banco gera mais dinheiro sem esforço.
     Os pais podem dar dinheiro para os filhos. Os pais trabalham para obter esse dinheiro. Os filhos devem saber que o dinheiro não é infinito, devem entender que há limites e devem buscar a própria independência. Os pais não podem simplesmente dar dinheiro para os filhos sem qualquer condição ou sem avaliar o que o filho faz.
     As pessoas podem obter empréstimos nos bancos sem qualquer trabalho. Mas, ao fazerem isso, criam uma "recompensa negativa". Os trabalhos futuros não poderão ter seus frutos 100% aproveitados, uma parte será usada para quitar a dívida inicial. Há uma mudança temporal de trabalho e recompensa (como quando um funcionário pede o adiantamento do salário). Mas há um condicionamento. As pessoas só emprestam dinheiro se esperarem que o outro trabalhe. Se o outro não trabalhar, então não vale a pena emprestar dinheiro. Se o outro gasta o dinheiro emprestado e depois pede mais, o banco irá recear em emprestar de novo. O empréstimo só funciona se a pessoa que pede emprestado trabalhar. Vez ou outra não dá certo, mas o esperado e o desejado é que dê.
     O dinheiro guardado no banco gera mais dinheiro sem esforço. Nesse caso você está investindo seu dinheiro. Você investe sem dinheiro em alguém que irá trabalhar. Essa pessoa trabalha e lhe dá parte do dinheiro em troca da sua ajuda inicial. Você está usando seu excedente para permitir que os outros façam um trabalho mais lucrativo em troca de alguns lucros que serão ganhos. Não entra exatamente como um trabalho, mas como um sacrifício individual que é muito semelhante ao trabalho: Você não consome tudo o que produz, guarda um pouco. Você não aproveita tudo agora para aproveitar mais depois.

     Bem, é isso, aceito dúvidas, críticas e comentários.


     Tenham um bom dia!

sábado, 5 de outubro de 2013

Política e responsabilidade

     Brabâncio, com raiva de Iago disse: "Sois um vilão"
     Iago, muito esperto, responde: "E vós... Um senador"
     Assim escreveu o poeta a imagem negativa dos políticos de forma magistral. O poeta é Shakespeare e a obra é Otelo.
     Vemos a política como um ninho de homens maus, egoístas, maquiavélicos. Assim olhamos a política com desinteresse e apatia. Exigimos mudanças, mas sabemos que não vão ocorrer. E nós mesmos não buscamos a mudança, já que para mudar é preciso sujar as mãos. Vemos um ciclo vicioso em que queremos mudança, mas não a fazemos.
     Mas estamos em uma ilusão. A política não vem necessariamente de cima para baixo, das prefeituras para a sociedade. A própria população se torna inerte ao se afastar da política ao mesmo tempo em que acha que só a política pode gerar mudança.
     Se descobrirmos que cada indivíduo pode gerar a mudança por si, então compreenderemos que podemos ser políticos sem a política institucional. Podemos participar de campanhas de doação de agasalho, comida, literalmente doar nosso sangue. Podemos participar de manifestações. Tudo isso emana da ação individual, tudo isso cada um pode fazer sem necessidade de senadores e deputados. A própria conversa é uma ação, podemos convencer amigos a ajudarem em uma campanha de arrecadação de leite.
   
     Os pais têm a responsabilidade de cuidar de seus filhos, certo? Em alguns momentos, os pais podem delegar essa responsabilidade. Mas não é correto eles abandonarem os filhos aos cuidados dos outros. Mesmo que o outro possa cuidar do filho melhor do que os pais, a responsabilidade é dos pais, eles devem ter o papel ativo na vida dos filhos
     De quem é, a priori, a responsabilidade de ajudar o próximo? Vejo três respostas:
1. Não existe essa responsabilidade - não irei abordar essa posição dessa vez.
2. A responsabilidade é de cada indivíduo.
3. A responsabilidade é da sociedade.
     Ora, se a responsabilidade é da sociedade, aquela só existe se esta existir. Portanto, os indivíduos sozinhos não têm responsabilidade. Só quando se unem passa a existir esse dever. Me parece que essa resposta joga a obrigação para uma ficção, para algo que não existe. É uma forma de se isentar de seu próprio dever. Não estou pensando do ponto de vista jurídico, mas da moral.
     Se uma pessoa que você não conhece desmaia da sua frente, você tem o dever de fazer alguma coisa, moralmente falando? Creio que sim, mesmo que vocês não se conheçam e mesmo que não façam parte de uma mesma sociedade. Assim, concluo que o indivíduo tem a responsabilidade de ajudar o próximo.
     Se nós somos temos esse dever, até que ponto é justo transferirmos ele para os políticos, para os representantes da sociedade? Transferir algo que é nossa obrigação para outro não é lavar as mãos, por mais que o outro possa fazer melhor do que nós? É claro que algumas coisas inevitavelmente teremos que transferir ao outro, não somos oniscientes e onipresentes. Mas não é correto fazer isso para se isentar de qualquer culpa. Os pais são responsáveis pelos filhos e devem ter um papel ativo na vida deles.

     Então mesmo se acharmos que os políticos são corruptos, ainda assim temos o dever de ajudar o próximo. Se cada um fizer uma pequena coisa, não será mais grandioso do que se os políticos fizerem uma grande coisa? Pensar que para mudar algo é preciso ser grande é um equívoco. Podemos mudar de baixo para cima, da população para as instituições políticas. Podemos alterar a base para modificara estrutura. E daí a importância das ideias.


     Tenham um bom dia!