sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Desapropriação de terras ociosas e "ad hoc"

     Uma terra ociosa pode ser desapropriada em benefício dos mais pobres? Muitas pessoas respondem simplesmente que sim. Mas vamos analisar os argumentos?
     Dizem que o terreno tem um papel social. Quando está ocioso não está cumprindo esse papel. Não gera emprego, não gera produção, não gera riqueza. Tudo bem que paga impostos, mas a função da propriedade é mais do que simplesmente pagar impostos. O terreno ocioso deverá ser desapropriado e dado a uma pessoa pobre sem emprego. De preferência, o ex-proprietário não deve receber nada, para que não torne o processo muito custoso para o governo, o que permite ao mesmo realizar uma ampla reforma agrária. Assim, o maior gasto do governo será com capital físico, como tratores, sementes, enxadas, para auxiliar o novo proprietário.
     Ok, vamos supor que isso faça sentido. Resumindo, o argumento é que uma propriedade ociosa pode ser desapropriada para que uma pessoa pobre sem emprego possa recebê-la e trabalhar. Vamos expandir um pouquinho esse argumento:
     Lá em casa temos no guarda-roupa algumas blusas velhas que deixamos de lado quando compramos blusas novas. (costumamos doar algumas, mas é sempre bom ter algumas de reserva). Creio ser de conhecimento geral que há muitas pessoas pelo Brasil passando frio. É legítimo o governo expropriar-nos de nossos agasalhos contra nossa vontade? Seja pagando nada, seja pagando quanto ele acha que vale? Me parece que não, mesmo que não a usemos. Se você, leitor/a, achar que sim, poste nos comentários.
     Tudo bem, vamos para outro caso. Ainda em casa, temos algumas facas de cozinha. Tem uma ou outra que a gente nem usa pois está sem fio. O governo poderia desapropriar essa faca para dá-la para um trabalhador que iria usá-la (digamos um cozinheiro de escola pública) de forma legítima? Também creio que não, mesmo que não usemos a faca e nem tenhamos expectativa de usá-la.
     Pode argumentar que são bens de menor valor, o governo tem coisas mais caras para desapropriar.
     Grande parte da população guarda um pouco do dinheiro nos bancos. É mais seguro do que guardar em casa, rende alguns juros e nós podemos usar cartões, o que diminui nossas perdas se tivermos a carteira roubada. Acontece que algumas pessoas acabam guardando uma quantia considerável no banco para o caso de alguma necessidade, caso surja alguma possibilidade de investimento etc. O governo pode tirar nosso dinheiro de forma legítima? Algumas pessoas podem se lembrar de um fato histórico recente em que ocorreu isso (pesquise no Google se quiser saber mais). Será legítima? Creio que não. Mesmo que nós não estejamos usando esse dinheiro, mesmo que não tenhamos a expectativa de usá-los imediatamente, mesmo que o dinheiro possa ajudar muitas pessoas. Você pode dizer que nós não estamos investindo o dinheiro, mas o banco está. O dinheiro não está parado. Mas e se eu não confiar nos bancos devido às crises que vêm ocorrendo e resolver esconder debaixo de meu colchão? (é mais macio, para mim é mais seguro, e estou sempre perto vigiando). Nessa situação posso ter meu dinheiro expropriado legitimamente? Creio que não.
     O mesmo se aplica para livros que as pessoas leem uma vez e deixam guardado na biblioteca de casa, para cadernos que tiveram só as primeiras páginas usadas, para sapatos, carros de um colecionador etc.
     Um argumento que é usado em uma situação X deveria ser usado em uma situação análoga Y. Se não puder, é um caso de "ad hoc", é um argumento que o enunciador usou só para essa situação, e não se aplica para as demais. Dizemos que é tipo de falácia, é um argumento de mentirinha.

     Vamos para outro argumento? Temos o dever moral de ajudar os pobres.
     Tudo bem, temos esse dever moral. Mas significa que somos forçados a fazê-lo? O governo pode nos obrigar a agir em benefício do próximo? O governo pode nos condenar por sermos cruéis, enganadores e caluniadores. Mas será que pode nos culpar por não ajudar os pobres? Já não basta pagar impostos? E outra, se você acha que devemos ajudar os pobres, por que não eliminar o desperdício em vez de roubar dos ricos? ("ad hoc"?)Grande parte da comida do Brasil vai para o lixo. http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/8/26/no-brasil-do-desperdicio-comida-vai-parar-no-lixo
     Não é melhor concentrar os esforços em otimizar a distribuição de alimentos? Sei lá, permitir que o as prefeituras comprem comidas que seriam descartadas parece-me melhor do que desapropriar um terreno de um investidor.

     Não é para dar comida aos pobres, mas ensiná-los a trabalhar? Portanto, vamos desapropriar terrenos ociosos! Não se segue o raciocínio de desapropriar terrenos ociosos. Trabalhar na terra não é a única forma de emprego. Só peço que não aumente a burocracia para aumentar empregos, já é um inferno fazer coisas muito simples. Já sei! Faça que nem a China e crie cidades fantasma. Não pensei muito no assunto, mas é melhor do que dar emprego para cavar buraco e depois para tapar buraco.

     Todas as pessoas devem ter o mínimo para viverem? E o que eu tenho a ver com isso? Dessa premissa (vamos admitir que todos concordem com ela) não se segue que o terreno do investido seja desapropriado. Já pagamos impostos que esperados que sejam usados para garantir esse mínimo. Cheira a "ad hoc"

     Pelo menos, o terreno ocioso tem uma função: o dono paga impostos para o governo desperdiçar.

     Concluindo, tem muitos argumentos "ad hoc" e muitos argumentos cuja conclusão não segue a premissa ("non sequitur"). E vale dizer que o investidor tem um papel social em seu processo: Imagine o primeiro proprietário, ele precisa de dinheiro imediatamente para alguma coisa (viajar, comprar um carro ou uma casa para o filho que está entrando na faculdade, saldar dívidas etc.). Ele sabe que o terreno vai ser valorizado, mas ele precisa do dinheiro AGORA. Vem um investidor e se propõe a comprar o terreno, já que o investidor pode esperar sem pressa até o melhor momento para vender. O primeiro proprietário resolve vender e todos saem felizes. Pelo menos até o governo frustrar a expectativa do novo proprietário.

     Só para não dizerem que defendo totalmente a propriedade, eu penso que a desapropriação pode ocorrer quando a propriedade está sendo sucateada, sendo local de proliferação de mosquitos e outros animais daninhos. Nesse caso oferece risco para o vizinho. Aí se pode pensar em desapropriação (após algumas notificações e multas). Ah, posso outro dia pensar no caso de o proprietário não pagar os impostos. Mas fica para outro dia.
     Críticas nos comentários. (ainda estou construindo meu pensamento sobre o tema, pode ser que tenha situações em que desapropriar seja bom, posso ter emitido algum pensamento equivocado, posso simplesmente ter esquecido de algum fato importantíssimo. Discutir faz bem para as ideias)


     Tenham um bom dia!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

"-ismos" e "-dades"

     Muitos defensores de movimentos a favor dos homossexuais dizem que não deve-se usar o termo "homossexualismo", pois o "-ismo" se relaciona com doença. O mais correto seria dizer "homossexualidade".
     Exemplo de doenças com "ismo": alcoolismo, sadismo, etc (me falta exemplos)
     Exemplo de palavras que não se relacionam com doença com "ismo": comunismo, capitalismo, cristianismo, racionalismo, humanismo, jornalismo, expressionismo, impressionismo, Lucas-é-super-legal-ismo.
     (tudo bem, o último eu inventei... Não que não seja verdade)

     Agora vamos explorar o seguinte fato: é preferível "homossexualidade" a "homossexualismo".
     Será preferível "comunidade" a "comunismo", ou "capitalidade" (?) a "capitalismo", ou "cristandade" a "cristianismo"?
     Bem, em algumas situações até que sim, mas não por o termo ser mais bonito, mas por os termos trazerem significados diferentes.
     Cristandade é uma comunidade de cristãos (me corrijam se estiver errado). Cristianismo defende a cristandade.
     Comunidade é um grupo de pessoas com cultura semelhante. Comunismo defende a ideia de comunidade.
     Racionalidade é a capacidade de exercer a própria razão. Racionalismo é uma doutrina que prega a racionalidade.

     O leitor/ a leitora atento/a perceberá que o sufixo -ismo é diferente do sufixo -dade. Também terá notado que -ismo não se liga necessariamente a doenças, mas a modos de pensar, expressar, acreditar.
     Por qual motivo teriam os defensores da homossexualidade diriam que -ismo se liga a doença? Eis o motivo: homossexualismo já foi catalogado como doença. Haveria uma conotação negativa nesse termo devido ao seu histórico.
     Mas se você prefere ignorar o politicamente correto e usar o gramaticalmente lógico, pense o seguinte: Homossexualidade é a "condição do homossexual", refere-se ao ser homossexual. Homossexualismo é a doutrina que defende a homossexualidade, em contraposição à heterossexualidade. Assim, parece que na maioria dos casos "homossexualidade" é o termo mais indicado.
     Se você prefere o politicamente correto, qual dos dois usar? Nenhum. Use "homoafetividade", é mais bonito (embora ninguém diga que também exista "heteroafetividade").

     Mas não é esse o objetivo, é uma ilustração. O meu objetivo é falar de individualismo x individualidade.
     Diz-se na escola que a individualidade se refere às especificidades das pessoas, suas características únicas e pessoais. Seria uma coisa boa.
     Diz-se ainda nas escolas que o individualismo é o egoísmo, o egocentrismo. É uma coisa ruim.
     Mas... Não é bem assim. Individualidade é realmente a diferença entre os indivíduos. O individualismo nada mais é do que a defesa da individualidade. O individualismo se opõe ao pensamento comunista e socialista. Estes valorizam mais a comunidade ou a sociedade ao invés do indivíduo.
     A mera valorização do indivíduo não é por si só ruim. Assim como a mera valorização da comunidade não é por si só boa. Exemplos: a valorização das habilidades de cada pessoa em um trabalho em grupo é bom. A valorização da sociedade romana em detrimento dos cristãos atirados aos leões no coliseu.
     Em meu post sobre direita e esquerda, se disse que a direita é individualista, quer dizer que valoriza o indivíduo, não há necessariamente uma carga negativa nessa valorização.

     Espero ter me expressado bem. Se acharam-me tendencioso, falacioso ou algo assim, comentem, critiquem. Se quiserem mais explicações, aprofundamento em temas ou opiniões se sintam a vontade para pedir.

     Para finalizar, uma frase do poeta: "Se uma rosa não se chamasse rosa, teria certamente o mesmo perfume" - Romeu e Julieta - W. Shakespeare (não que essa frase favoreça meu ponto de vista, mas o assunto me fez lembrá-la).


     Tenham um bom dia.

"Quem cola não sai da escola"

     Nos dizemos contrários a comportamentos errados, criticamos o "jeitinho brasileiro", a corrupção dos grandes, mas vivemos em contradição.
     Pessoas comuns tentam corromper agentes públicos, com "investimento" no funcionário público ou buscando amizades de pessoas influentes. Mas essa não o cerne de minha crítica.
     Quem já não ouviu o provérbio muito difundido nos meios educacionais: "quem cola não sai da escola"? Ao meu ver, esse provérbio não faz o menor sentido e ainda apresenta um ideal doentio que infelizmente faz jus à educação sucateada (ou não, dependendo do caso).
     Quem defende essa frase infeliz poderia dizer que é uma crítica ao estudo de uma matéria inútil, ou uma crítica ao modo do professor, ou uma crítica à sociedade que só diz para estudar, ignorando os momentos de lazer. Ou simplesmente diz que é burro.
     Primeiro, a matéria não é inútil, nada é inútil. E se você não concorda, não é colando que vai torná-la útil. Segundo, criticar o professor é, na maioria dos casos, ver no outro um problema seu. Se você não consegue assumir sua concentração, não culpe o professor. Nas minorias das vezes que o problema é realmente o professor, colar não ajuda a tornar o professor melhor. Terceiro, o mundo não concilia estudo e lazer, mas quem deve conciliar isso é você. É muito fácil dizer que é impossível. Você tem que fazer escolhas, o mundo não é um mar de rosas.
      Concluo que colar não resolve nenhum problema, e além disso, acrescento, tirar nota boa é uma injustiça; e uma forma de fugir do dever de estudar, enganando a si mesmo. Aceito críticas. Se for apropriado, faço outra postagem sobre isso.

      Tem mais uma coisa que eu quero falar. É sobre as "frasezinhas" engraçadinhas dos professores nas provas do tipo: "pode colar, desde que eu não veja" ou "a cola é proibida, exceto se o professor não ver". Vai, pode parecer engraçado a priori. Mas que recado a pessoa incumbida de ensinar os futuros cidadãos está passando? Algo do tipo: Você pode ser malandro, desde que não seja pego. Você pode ser um criminoso traidor, desde que ninguém saiba. Mesmo que não seja responsabilidade do professor transmitir moralidade e educação para as crianças (o que seria tarefa dos pais, da família), ainda o professor agiria contra todos se não buscar prevenir essa falta de moralidade.
     Sei lá, para mim, nota é consequência, e não objetivo. Se você pensa contrário, se acha que os fins justificam os meios, então acho que precisa rever sua moralidade.

     Desculpem, caros leitores, pelo desabafo e pelas críticas um tanto generalizantes e intolerantes. Se magoei alguém, me desculpe, o objetivo não é atingir a pessoa, mas a forma de pensar e de agir. Inevitavelmente alguns podem se ferir, se for o caso, melhore a autoestima. Se discordam com o que disse ou concordam, comentem, divulguem.
     Obrigado pela paciência,


     Tenham um bom dia.

domingo, 22 de setembro de 2013

CUIDADO CRIANÇAS!



      Muitos ônibus têm uma faixa na parte exterior dizendo "CUIDADO CRIANÇAS!".
     Me parece que o objetivo é avisar os outros condutores de que devem tomar cuidado redobrado por o ônibus estar transportando crianças, que têm tantos anos a mais para viver, tão jovens e inocentes.
     A questão é que vários dos condutores de ônibus tomam medidas arriscadas, imprudentes.
     É válida a ideia de alertar os amigos condutores, mas em alguns casos a faixa faz mais sentido a faixa estar dentro do ônibus, alertando o condutor, do que fora, alertando os demais veículos.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Evolucionismo 5 - crises

Postagens anteriores (altamente recomendável que leiam):
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-parte-1.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-2-perfeicao.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-ideias-e-politica.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-4-nao-acreditem-na-teoria.html

     Tudo bem, agora falando sério: (desculpem pelo tamanho do texto)
     Vamos supor que tenha uma espécie vivendo "em harmonia" com seu ambiente. Então surge uma nova espécie "invasora" e acaba competindo com a primeira espécie. A segunda se mostra mais apta, crescendo rapidamente enquanto a primeira diminui. Não há juízos de valor, não há justiça ou injustiça. A segunda prevaleceu por melhor agradar a natureza. Nem sempre a primeira espécie será extinta imediatamente. Ela pode se especializar em uma atividade que a outra espécie não consegue fazer, por exemplo pode aproveitar o fato de ser imune a algum veneno nocivo à segunda espécie.
     Com o tempo, a primeira espécie se desenvolverá pelo caminho em que tem vantagem, ou será eliminada. Ou poderá vir a ser capaz de competir igualmente com a segunda espécie. Mas não é um processo possível de previsão. A habilidade de mudar e de resistir é difícil de ser prevista.

     Talvez o amigo leitor ou a amiga leitora observem a espécie invasora como injusta. Vamos explorar um pouco essa injustiça. Seria injusto se na própria espécie um indivíduo nascesse com uma vantagem que o torne mais apto do que seus semelhantes? Seria injusto, na área das ideias, que a ideia da lâmpada surja quando a ideia da vela é dominante? Seria injusto na política que um político minoritário seja eleito? Seria injusto que a aldeia A presenteasse a aldeia B com a ideia da roda, que desfavoreceria a ideia do cavalo?
     Todo momento no mundo da natureza ou no mundo das ideias surgem novidades. E as novidades tentam sobreviver, tentam frutificar. Se elas não são aptas (a ideia de um raio ser elétrons em circulação pode ser
'melhor" do que a ideia do raio como a fúria de Zeus, mas a última foi mais apta em alguns momentos; a ideia de "melhor" não é a mais apropriada) então entram em declínio. Esse declínio, vale lembrar, não é extinção. Ainda usamos velas, mesmo que pouco. Ainda ouvimos o rádio. Ainda andamos.

     A partir do momento em que segunda espécie chegou, passando a competir, iniciou um momento de crise (não sei se o termo é usado na biologia, mas me parece apropriado. Falarei abaixo sobre isso). A crise não precisa ser instantânea ou rápida. Pode acontecer lentamente. Na crise uma espécie dominante é questionada e entra em declínio. Suas fragilidades que sempre existiram são expostas.
     A crise não leva necessariamente à extinção, mas provoca profundas mudanças. Normalmente há uma queda no número de indivíduos etc. No reino das ideias, haverá um debandar em massa de apoiadores, mas ainda haverá aqueles que preferirão o antigo.
     A própria ciência apresenta uma certa evolução no sentido darwiniano. A ciência não progride em linha reta. Vamos lembrar que a ciência (não só a religião) já imaginou que a terra era o centro do universo. Quantas teorias e teses devem ter se baseado nela? Quando se quebrou esse pensamento, a ciência entrou em crise, mas da crise emergiu um novo pensamento, o heliocentrismo. Surgiram teorias sobre o heliocentrismo. Ele entrou em crise e o sol não foi mais o centro do universo, mas ele se movimentaria também.
     Thomas Kuhn, em seu livro "A Estrutura das Revoluções Científicas", defende essa ideia de crise. Para ele, a ciência também não é perfeita. Os paradigmas (teorias, conjunto de pensamentos) de um momento irão NECESSARIAMENTE ser superados. Contudo devemos nos lembrar que existe uma certa evolução, mesmo que nunca vamos atingir a perfeição.

     Ao contrário das ciências humanas, as ciências naturais têm o hábito de descartar o que foi superado. Podemos até saber que existiu o teocentrismo, mas não sabemos teorias complexas sobre ele. A ciência da natureza repudia seu passado de crises, dando uma ideia ilusória de linha reta. As ciências humanas são terreno para disputas que já foram travadas há milhares de anos, nela as ideias apresentam maior capacidade de se manterem (sempre há um maluco pensando em teorias viajadas, e muitas vezes ele será compreendido amanhã).
     As descobertas das ciências naturais, contudo, ainda estão sujeitas à evolução darwiniana no sentido de ideia mais apta (não a mais correta). Na escola aprendemos física de Newton, certo? Essa física já foi superada pela física quântica. Mas por que ainda aprendemos a newtoniana? Pois é a mais apta. Não é no presente muito interessante aprender na metade do ensino fundamental a constante de Planck ou a mudança na massa dos corpos quando se aproximam da velocidade da luz. Também é pouco prático. Para as escolas, agora, a física newtoniana é mais apta. E será certamente substituída no futuro.

     "Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha nossa vã filosofia", disse Hamlet, não apenas nossa filosofia no sentido moderno, mas também na natureza, nas ciências naturais, nas demais ciências humanas, no mundo das ideias etc.
     Entramos em um túnel caótico, embora com certa ordem, e longo de infinitos passos. Escuro, muito escuro, mas podemos ver uma luz em seu fim, embora inalcançável. Andamos pois, embora tenhamos medo, sabemos que cada passo nos aproxima dessa luz intangível.


Tenham um bom dia.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Evolucionismo 4 - Não acreditem na teoria

Postagens anteriores: (aconselhável ler antes)
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-parte-1.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-2-perfeicao.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-ideias-e-politica.html


     Observações: eu suponho que tenham lido os outros posts sobre evolucionismo. Aconselho a lerem antes de ler esse post. Obrigado
     Mas não se deixem levar por toda a suposta lógica que existe nessa teoria. Existem muitas mazelas e desventuras no mundo, e nós precisamos de uma solução AGORA! Pode até ser que a natureza não seja tão sólida assim, mas ela está cheia de animas brigando entre si em uma grande confusão.
     Vamos nos lembrar das conclusões nefastas que teorias evolucionistas trouxeram: o darwinismo social. Essa teoria pseudo-científica levava a crer que povos europeus eram superiores a africanos, asiáticos e indígenas. Não a civilização, não a ciência, mas as próprias pessoas tinham uma genética superior. Isso justificou por muito tempo exploração e escravatura. O nazismo, mancha negra da história humana, usou a suposta superioridade ariana para justificar o holocausto.
     Evolucionistas dizem que as ideias foram aplicadas de forma errada, usando argumentos de que Darwin não dizia que existia superioridade, apenas aptidão; ou que não houve diferenciação genética tão grande entre os humanos; outros ainda completam o argumento anterior ao afirmar que o ambiente é diferente da Europa, então a avaliação é diferente.
     Uma teoria tão preconceituosa deve ser descartada imediatamente. Não caiam na conversa de que o debate de ideias é saudável. Existe uma verdade. E há também as coisas que não deram certo e que nunca darão certo. O debate evolucionista é infrutífero e apenas distancia as pessoas da verdadeira verdade. Esta precisa do caminho limpo para ser implantada e jamais questionada, pois é a verdade perfeita.
     Já que existe uma verdade, quando é implantada, leva necessariamente ao melhor. Como o darwinismo aplicado às ciências humanas levou a tamanha dor, não deve ser verdadeiro, assim como ideias liberais (que com toda certeza provaram sua falha na Grande Depressão), ideias comunistas (que também faliram, como todas sabem, com a queda do muro de Berlim), as religiões (o cristianismo com a inquisição, para citar um exemplo).
     Espero ter sido esclarecedor e ter dado exemplos suficientes.


Tenham um bom dia!

Postagens posteriores:
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-5-crises.html

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Evolucionismo 3 - Ideias e Política

Postagens anteriores: (altamente recomendável ler antes)
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-parte-1.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-2-perfeicao.html


     Richard Dawkins, no seu livro "O gene egoísta", o qual já mencionei outrora, traz uma nova aplicação para a teoria da evolução: para as ideias.
     Ideias vivem surgindo quase ao acaso na cabeça das pessoas. As ideias, se forem boas, crescem como uma árvore nos pensamentos de seu gerador. A ideia, a partir de certo tempo, passa a dar frutos: a pessoa fala de sua ideia, escreve textos, desenvolve os pensamentos. Outras pessoas recebem essa ideia e, se ela for realmente boa, passa a crescer nessas pessoas, que também passarão a disseminar a ideia.
     A ideia, que o autor chama de "meme" (mesmo radical que "memória"), tem um caráter egoísta: se espalhar o máximo que puder. O meme pode se associar com outros que sejam compatíveis entre si se isso permitir que se disseminem mais rápido. Como em uma epidemia, as ideias boas surgem e dominam.
     As ideias, como os genes, tem um certo controle (porém não absoluto) sobre o comportamento dos indivíduos. Quem tem determinados tipos tende a agir de determinada forma. Os memes competem entre si: muitas vezes existem dois memes antagônicos, e um só pode existir se o outro desaparecer. Então desse diálogo surge a ideia mais apta (não a melhor, mas, quanto mais diálogo, mais irá tender para o melhor)
     Quis apenas passar uma ideia geral da ideia dos memes. Mais informações no livro que indiquei.

     Agora, vou entrar no ambiente sempre muito controverso da política.
     Vou dividir, por minha própria conta e risco, a política em dois momentos: a ideia e a ação. A ideia costuma anteceder a ação, nela se verifica a aplicabilidade, os precedentes, as consequências de uma nova política a ser implementada. A ação é a própria aplicação. Uma vez aplicada, o êxito ou o fracasso podem interferir em outro momento em que a ideia dessa política seja debatida.
     Assim como os genes, as melhores políticas costumam se sobressair e a se repetirem. E, também, um fracasso não significa o fim. O gene que perdeu continua no jogo, sempre em busca de algo que lhe dê vantagem. O fracasso de uma política não significa a morte de sua ideia, apenas seu enfraquecimento. Ainda haverá pessoas que a defendam e que procurarão entender porque não deu certo. E com base nisso, reformarão a ideia e a levarão novamente para o coliseu das ideias.
     A política é um espaço para discussão, não para dogmas incontestáveis. Nela, os perdedores se levantam e podem vencer. Nela, não há vencedor que nunca se sinta ameaçado. É o debate de ideias que possibilita a evolução das mesmas. Tudo pode ser contestado, sempre há obstáculos que servirão como filtro para as ideias menos desenvolvidas (desenvolvidas no sentido de lapidadas pelas mentes pensantes), sempre deve haver uma luta ideológica pelo melhor. E não há nenhuma vergonha em se admitir que a luta é ideológica.
     Um aviso: Tenham receio daqueles que querem apresentar uma solução tão perfeita quanto a natureza, tão incontestável quanto uma boa política adotada. É muito provável que essa solução seja infalível: Infalível como os planos do Cebolinha.
     Iria parar por aqui, mas acho válido enfatizar: Um pé atrás com fórmulas mágicas perfeitas (principalmente os que não admitem nenhum erro e, por consequência, nenhum meio de correção). Nem a natureza se diz tão sólida. De Marx: "tudo que é sólido desmancha no ar". De Shakespeare: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha nossa vã filosofia".
     Espero que tenham gostado, há mais um texto sobre evolucionismo. Aceito críticas, sugestões etc.


Tenham um bom dia!

Postagens relacionadas:
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-4-nao-acreditem-na-teoria.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-5-crises.html

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Evolucionismo 2 - perfeição

Antes, é aconselhável ler:
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-parte-1.html

     Per- = através de, por meio
     Feito = acabado, pode expressar
     Perfeito = indica uma ideia de totalmente acabado, com todas as características, total.

     Se algo é perfeito, não precisa de mudança e não tem nenhum defeito.
     Em certo sentido, a natureza não é nem nunca poderá ser perfeita. Ela vive se renovando, se destruindo e se construindo. Olhamos hoje uma floresta. Daqui alguns dias, a floresta já não é mais a mesma.
     O homem jamais poderá ser perfeito no mundo em que vivemos, pois ele vive se reconstruindo. Filósofos chegam a dizer que "o Dasein é um ser para a morte, pois só se torna quem ele é quando já não é mais" (Dasein = ser humano). O homem só atinge a perfeição, no sentido de imutabilidade, quando já não é mais homem, quando está morto e não pode mais se transformar.
     A perfeição não é própria do mundo em que vivemos, ela talvez só exista no mundo das ideias de Platão ou do plano divino (dizemos que só Deus é perfeito).
     Buscamos o perfeito, mas não o alcançamos. Buscamos o melhor, mas o maior sempre será menor do que pode ser. Buscamos algo que talvez não exista. Mas devemos parar?
     O mundo não para de girar. As ideias não param de surgir. A natureza não para de se inovar. "A essência do homem é não ter essência". Devemos parar?
     Não podemos parar. Não é apenas eu, Lucas, ou você, leitor ou leitora, que não pode parar. Os genes de que somos feitos não param. Eles são imperfeitos, sempre que se dividem podem gerar outro nunca visto.
     A natureza busca se equilíbrio. O que a impede de atingi-lo? Ela mesma. Quando o jogador grita "Truco!", a natureza troca as cartas do jogo. Mas todos seguem ainda querendo vencer. Existem regras que a natureza não mudou: 1° a regra de que o vencedor continua jogando. 2° a regra da incerteza.
     O homem busca uma razão, um sentido. Ele quer encontrar padrões. Mas a natureza frustra esse desejo. Mesmo assim continuamos. Conseguimos encontrar um ponto branco e outro preto, embora não saibamos onde traçar a linha cinza que separa o claro do escuro.
     Avançamos, recuamos. E no final do primeiro round do jogo sabemos um pouco mais do que sabíamos antes. E, pouco a pouco, vamos tentando evoluir. Nosso raciocínio está cheio de erros, mas vamos consertando-os por tentativa e erro.
     Talvez jamais iremos nos isentar de algum erro. Talvez jamais chegaremos ao fim. Mas não haveria graça se o mundo fosse perfeito.
     Inovamos para nos aproximarmos da felicidade. Mais ideias levam a mais caminhos para o que talvez seja inalcançável. Mais Rangers diferentes significa mais possibilidades de combinação. Estar um pouco mais perto do melhor já é por si uma recompensa, mesmo o nosso melhor fique um dia obsoleto.


Tenham um bom dia!

Postagens relacionadas:
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-ideias-e-politica.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-4-nao-acreditem-na-teoria.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-5-crises.html

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Evolucionismo parte 1

     Bom dia, já assistiram Power Rangers? Até onde minha memória me permite ir, não gostava muito, contudo me lembro que eles tinham grandes robôs em que cada Ranger controlava uma parte. Se minha memória me enganou, então considerem o filme "Círculo de Fogo" ou um em que o menino gênio Dexter cria uma máquina do tempo e acaba, junto com outros Dexters, criando um robô para derrotar seu rival.
     Mas vamos imaginar algo mais complexo do que meia dúzia de Rangers controlando um robô. Imagine uns, digamos, 27 mil Rangers controlando robôs gigantes. Acontece que os Rangers podem mudar a cor, podem controlar mais músculos, alguns podem acrescentar braços, espadas e outras melhorias.
    Você encontrará alguns Rangers que não parecem fazer nada. Eles conversam com uns e com outros, andam de lá para cá. Mas como esses preguiçosos poderiam ter passado no teste para serem Rangers? Bem, eles devem ter alguma característica boa. Após muito pensar, os leigos descobriram que eles ajudam a equipe a se entender. Eles são responsáveis pela união de colegas que não se dariam bem. Eles ajudam a diminuir eventuais brigas.
     Mas quem seria sábio o suficiente para selecionar esses 27 mil Rangers? Não é um trabalho gigantesco? Em minha história, é o ser mais sábio de todos, a dona Tureza.
     Nesse mundo que inventamos, existem mais de 8,7 milhões de classes de robôs. E cada classe tem muitos robôs diferentes. Como Tureza teve a habilidade de criar tantos, e cada um melhor do que o outro? Como selecionar os Rangers para cada um?
     Tureza sabia que seria uma tarefa hercúlea, provavelmente impossível criar robôs perfeitos (perfeito = totalmente feito, acabado), que pudessem se manter durante toda a existência. Assim, Tureza abandonou a ideia de criar robôs perfeitos, com Rangers insubstituíveis. Criou um modelo em que, por tentativa e erro, os Rangers encontravam seus lugares.
     Você deve imaginar que era muito caótico. No começo pode ter sido muito, mas nem tanto quanto você imagina. Inicialmente havia poucos robôs, então havia poucos lugares. Tureza disse que quem gostasse do lugar em que ficou poderia escolher permanecer em vez de tentar a sorte em outro. Na primeira troca, foram muitos que escolheram mudar. Depois foram menos, depois menos e assim sucessivamente.
     Mas não se podia ter certeza de que os robôs estavam sento controlados pelos melhores Rangers em cada lugar. Então periodicamente se realizavam trocas. Se fosse mais eficiente, os novos Rangers permaneciam. Nesse momento já havia mais robôs no mundo. Cada robô se desenvolvia de forma diferente, e cada robô produzia mais dos seus (robôs mineradores produziam robôs mineradores). Algumas vezes um robô abandonava a tarefa a qual foi designado (robô minerador de carvão para robô minerador de esmeralda), também por tentativa e erro.
     Durante a passagem do tempo, alguns robôs eram abandonados pois tinham sido superados.

     Bem, mas como surgiam novos Rangers? Por um processo mitótico em que um rangem criava um clone de si mesmo. O Ranger vermelho se dividia em dois Rangers vermelhos. Contudo, esse processo de divisão não era perfeito, resultando em Rangers ligeiramente diferentes. (Um ranger cinza origina outro cinza e outro cinza claro). Quando se formava um novo robô, os Rangers do robô que criou o novo se dividiam e os novos passavam a habitar o antigo.
     Mas qual a motivação dos Rangers? Por que eles faziam isso?
     Aí a surpresa: eles faziam por egoísmo.
     O Ranger amarelo queria que sua linhagem de Rangers amarelos sobrevivessem. Por quê? Pois os Rangers que não pensavam assim não se multiplicavam tão rápido e eram ultrapassados em número pelos outros.
     Os Rangers ficavam cada vez melhores em suas funções para que o robô que controlassem fosse o melhor e produzisse mais robôs. Com mais robôs, os Rangers poderiam se dividir com mais frequência e se disseminar.
     Mas o egoísmo não impedia os Rangers de serem amigos. Quando eram amigos, podiam combinar suas qualidades de forma a melhorar o robô. (o movimento dos dedos com o movimento da mão). Quanto mais unidos, mais fortes.
     Os robôs parecidos começaram a cooperar com seus semelhantes. Por quê? Quanto mais parecidos, maior a chance de um Ranger da mesma cor estar no outro. Então, com muita tentativa e erro, os robôs passaram a cooperar entre si. Quanto mais semelhantes, maior a chance de se ajudarem.

     Observações finais
     Não são os robôs que são egoístas, são os Rangers.
     Robôs e Rangers não são perfeitos, são mutáveis.
     Para introdução, pense nos Rangers como genes e nos robôs como os indivíduos. Mais tarde veremos outra ideia.
     A ideia a qual me baseio é uma teoria evolucionista, não sei se existe outras que divergem da minha ideia de evolução.
     Para quem gostou, sugiro o livro "O gene egoísta".
     Irei criar mais postagem que usam esse texto como base, assim sendo, me comuniquem em caso de dúvidas, problemas etc.


Tenham um bom dia!

Links relacionados:
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-2-perfeicao.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-ideias-e-politica.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-4-nao-acreditem-na-teoria.html
http://www.copaziodesaber.blogspot.com.br/2013/09/evolucionismo-5-crises.html

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Virem o navio para estibordo! Espera, capitão, para onde é estibordo?



    Bom dia, muitas pessoas não sabem muito bem qual a diferença entre direita e esquerda na política. Vou tentar esclarecer alguns pontos. Vai ser meio longo...

1. Surgimento
     Esses termos surgiram na Revolução Francesa. Na fase da Convenção (o rei foi vencido e instaurou-se a República), surgiram dois partidos: os girondinos (que se sentavam à direita, eram da alta burguesia) e os jacobinos (esquerda, eram da baixa burguesia).
     Os girondinos queriam consolidar as conquistas, evitar a radicalização. Achavam que a Revolução já podia terminar.
     Os jacobinos eram mais radicais e ainda queriam mudanças.
     Vamos fazer uma pausa. Ambos os grupos eram contrários à monarquia. Alguns dizem que os termos "direita" e "esquerda" só fazem sentido em governos democráticos. Contudo, há outras pessoas que discordam, dizem que são posições que independem do tipo de governo.
     Uma característica marcante para diferenciar direita e esquerda é o desejo de mudanças. A direita teme grandes mudanças. A esquerda nem tanto. Contudo, não se pode generalizar. Direita e esquerda participaram da Revolução Francesa.
     Contudo, houve diversos processos históricos, levando à diversas correntes dentro de cada "lado". Meu objetivo é encontrar as características que são comuns às correntes que estão do mesmo "lado" e que os diferenciam das correntes do lado oposto
2. Exemplos
     Vamos começar pelos mais fáceis e seguir para os mais difíceis.
2.1. Conservadorismo
     Os conservadores se opõem às mudanças repentinas. Existe um lento processo de mudança que são transmitidos por gerações e que devem ser preservados. Eles desconfiam do excesso de liberdade individual e também do excesso de Estado, contudo defendem a liberdade em grande medida. Defendem instituições intermediárias entre o Estado e a população, como a Igreja, família, comunidades locais (federalismo).
     Não há relativismo cultural. Há valores universais que se tenta alcançar ao longo do tempo.
     Não defendem a uniformidade. A igualdade só ocorre perante Deus e perante a lei, são contrários a políticas que buscam outras igualdades.
     Defendem a propriedade privada (segundo eles, liberdade está intimamente ligado à propriedade).
     São classificados como de direita.
     Defendem: liberdade, propriedade, individualidade, federalismo (no sentido de instituições intermediando as pessoas e o Estado), igualdade só perante a lei e perante Deus.
     Contra: grandes mudanças, uniformidade (usarei o termo para a igualdade em aspectos além da lei), relativismo cultural.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conservadorismo
http://observatorioconservador.com.br/voce-e-conservador-o-que-e-conservadorismo/

2.2. Comunismo
     Muito defendida por Karl Marx. Defendem uma sociedade igualitária, sem classes e apátrida, com os meios de produção e propriedade de uso comum.
     As decisões ocorreriam por uma espécie de democracia, em que todos teriam voz.
     O meio para alcançá-lo seria inicialmente por uma luta de classes em que o proletariado venceria a burguesia.
     O comunismo era uma "evolução" do capitalismo. Não bastaria uma revolução em um país "pobre", ainda sem meios de produção industriais, era preciso do nível anterior. As sociedades ideais para uma revolução seriam as com o capitalismo mais desenvolvido, portanto, na visão de Marx, aquelas com mais pessoas descontentes.
     Classifica-se como de esquerda.
     Defendem: uniformidade, igualdade, coletividade, democracia.
     Atacam: propriedade privada, individualismo, classes sociais, Estado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunismo
2.3. Socialismo
     O Estado deveria intervir a fim de promover a igualdade social e econômica. Para tanto, haveria de ser detentor de vários meios de produção e usar programas de redistribuição de riquezas.
     Objetiva o comunismo, a passagem do poder para a classe proletária. Pode também objetivar um sistema muito próximo do comunista, mas com uma leve desigualdade.
     Historicamente, há uma tendência a opor-se à mídia tendenciosa.
     Classifica-se como de esquerda.
     Defendem: Estado forte, igualdade, uniformidade.
     Contra: acúmulo de capital, individualismo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo
http://www.suapesquisa.com/geografia/socialismo/
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/socialismo-filosofos-criticam-o-capitalismo-e-imaginam-transformacao.htm
2.4. Anarcocomunismo
     Anarco=sem governo. Popularmente conhecido simplesmente como "anarquismo" (em breve criticarei essa simplificação), defende que o Estado é opressor, então são contrários a suas instituições e seus políticos. Só pode haver hierarquia se for aceita por livre associação.
     Pode ser favorável ao uso de violência como o Estado ou não. Muitas das correntes são contrárias à violência.
     Após a luta dos operários, não haveria meio termo, haveria comissões de trabalhadores. Essas comissões iriam gerir as propriedades.
     Os indivíduos serão mais felizes se optarem pela liberdade, igualdade e fraternidade. Por liberdade, entende-se liberdade da coerção estatal. Difere da liberdade conservadora, esta se relaciona com a propriedade. O anarcocomunismo defende a propriedade comum.
     Ao contrário do que se veicula na mídia, muitos anarquistas defendem um modelo de grande ordem, e não de caos (mas para atingir essa ordem alguns defendem a violência; note que escrevi "alguns" e não "todos")
     Classifica-se como de esquerda.
     Defende: Liberdade*(lembrar que não se relaciona com propriedade), igualdade, fraternidade, uniformidade, propriedade comum, democracia direta
     Contra: Estado, trabalho assalariado, propriedade privada
http://www.anarquista.net/o-que-e-anarquismo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcocomunismo
2.5. Anarcocapitalismo
     Sim, esse nome existe e não fui eu quem inventei. A propósito, anarquismo envolve teoricamente também o anarcocapitalismo, sendo etimologicamente errôneo classificar o anarquismo como de esquerda.
     O anarcocapitalismo é contrário ao Estado. Ele acredita que os indivíduos, com seus desejos egoístas, podem promover a melhor sociedade. O Estado só interfere. O capitalismo é benéfico.
     São favoráveis à propriedade privada, contrários à interferências na economia.
     Acreditam que justiça e segurança podem ser alcançados sem o Estado.
     São contrários à violência contra não-agressores.
     Antes que pergunte, eles não defendem o empobrecimento do pobres, o estado de todos contra todos ou qualquer coisa assim. Eles acreditam que os indivíduos, por egoísmo, conseguem manter um estado de segurança. (se quiserem eu explico melhor outra hora)
     Classifica-se como de direita.
     Defende: propriedade privada, liberdade máxima, livre-mercado, individualismo.
     Contra: Estado, uniformidade.
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=215
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcocapitalismo
2.6. Liberalismo
     Defendem o estado mínimo, cuidando do mínimo de atividades. Não deve regular a economia. Liberdade para os indivíduos.
     São favoráveis à propriedade privada, e contrários a meios de produção coletivos ou controlados pelo Estado.
     O indivíduo tem direito à vida, propriedade e liberdade. O Estado nem ninguém pode intervir contra isso.
     Igualdade só perante a lei.
     Defendem a democracia. Mas o governo não pode ter muito poder. Defendem o federalismo, o poder a nível local (municípios, estados)
     Classifica-se como de direita.
     Defende: propriedade privada, liberdade, Estado mínimo, individualismo, federalismo, igualdade (perante a lei).
     Contra: totalitarismos, propriedades controladas pelo Estado, intervenção na economia, uniformidade.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo
2.7. Outros
     Acho que deu para ter uma ideia geral. A seguir, mais exemplos:
     Esquerda: Leninismo, maoismo, nacional-socialismo.
     Direita: Libertarianismo, neoliberalismo.
     Existem outros, mas não ganhamos muito ao colocá-los aqui. Alguns são de centro, centro-esquerda ou centro-direita, mas não nos interessa.
3. Características explícitas
     Notamos algumas características comuns na direita e na esquerda:
     Direita: propriedade privada, individualismo, liberdade, igualdade perante a lei, pouca concentração de poder (federalismo e ausência de Estado)
     Esquerda: foco na propriedade coletiva ou estatal (o socialismo não aboli a propriedade privada, pelo menos imediatamente e de forma absoluta), uniformidade entre os indivíduos, igualdade social e econômica
     Há também características opcionais:
     Direita: presença ou ausência de Estado, contrariedade ao relativismo cultural.
     Esquerda: uso de um governo forte ou total ausência.
4. Características implícitas
Direita:
Indivíduo com mais destaque do que a sociedade.
Desconfiança ao acúmulo de poder.
Contra programas de redistribuição de renda.
Tem receio de grandes mudanças (não necessariamente em todos os casos)
Esquerda:
Sociedade com mais destaque do que o indivíduo.
Grupos de trabalhadores ou pessoas iluminadas conseguem mudar o mundo para melhor.
Crença em um mundo melhor.
Descrença nas decisões individuais (é melhor grupos decidirem ou um grande líder).
5. Síntese das características
Direita X Esquerda
Indivíduo X Social
Medo do acúmulo de poder X Busca por um mundo melhor
Igualdade só perante a lei X Também igualdade social e econômica
6. Observações finais
     Quero fazer alguns lembretes:
     Minhas conclusões sobre a separação entre direita e esquerda não é absoluta, pode ter (e provavelmente tem) diversas falhas. Pode haver diversas teorias diferentes sobre como separar os dois lados. Aceito suas críticas às minhas teorias nos comentários, também aceito teorias diferentes. Tentei ser o mais imparcial possível.
     Creio que a separação em direita e esquerda seja infeliz no sentido de ser muito genérica, dentro de cada lado há várias correntes. O ideal seria analisar correntes separadamente, mas para fins metodológicos essa divisão é válida.
     Creio também que o ideal seja encontrar as características fundamentais de cada pensamento, o que tentei resumir na síntese; e trazer exemplos. Não quero simplesmente jogar características para o leitor.

     Há pessoas que dizem, recordo, que essas posições só são possíveis na democracia (o que eu discordo, tem muita ideologia que independe de ser um sistema democrático). Há também pessoas que dizem que hoje não existe essa diferença (eu também discordo, embora haja, ao meu ver, uma "uniformidade" de ideias no cenário político, o que torna difícil encontrar grupos extremistas).
     Liberais e conservadores são de direita.
     Não se diferencia categoricamente direita e esquerda por classe social, renda, preconceito, caridade, religiosidade, bondade, egoísmo, posição política dos pais, lugar de nascimento, etc.
     Existem também posições de centro, centro-esquerda, centro-direita (é sempre bom lembrar). Existe, portanto uma gradação, há uma escala de cinza entre o branco e o preto.
     As pessoas podem assumir posições diferentes conforme o tema, ela pode ser conservadora para o aborto e socialista para a economia ou algo assim. O que eu fiz foi criar um modelo ideal de cada posição, e não indicar qual a linha que separa as duas posições. (Defini o que é preto e o que é o branco, mas não os tons de cinza).
     Pode-se dizer que os termos "direita" e "esquerda" são relativos. Um partido de centro pode ser de esquerda para um de direita e de direita para um de esquerda.


Espero ter ajudado, tenham um bom dia.
Obs.: Críticas, sugestões, dúvidas, pedidos de explicação, etc. nos comentários.

Somos maus? Podemos ser bons?

     Imagine que uma pessoa comum descubra uma forma de se tornar um fantasma, com o poder de ficar invisível, imaterial e flutuar quando quiser. Suponha que ele pode escolher esses três status de forma independente (por exemplo, pode ficar só invisível, ou pode ficar imaterial e flutuar, ou pode ficar invisível e flutuar etc.)
     Na sua opinião, essa pessoa iria usar esse poder de forma boa ou má? Ou simplesmente não se tornaria mal nem bom? Pense por um momento. As pessoas têm amigos e inimigos, têm desejos bons e desejos ruins, têm frustrações e felicidades. Lembre-se que a pessoa terá esse poder por muito tempo. Ela irá continuar boa ou má durante todo esse tempo? O que você faria?
     Mesmo que haja uma pessoa ou outra que não façam nada, a maioria provavelmente tenderia para ações egoístas.
     Mas isso não prova que o ser humano é mal. Vamos procurar alternativas:
1. O ser humano é bom, mas o poder o corrompeu.
2. A questão não é o poder exatamente, mas o poder ser anônimo.
3. As pessoas não são boas nem más, isso é uma construção social. Em uma sociedade ideal, todos podem ser bons.
     Vou trabalhar o terceiro argumento. Mesmo que os valores possam ser ensinados, mesmo que se possa aprender o sentimento de coletividade, quando uma dessas pessoas recebesse o poder, ela iria ignorar suas tentações e respeitar o que lhe foi ensinado? Existem paixões biológicas do homem, que não surgem do ensino, mas da própria natureza. Essa pessoa que foi bem educada não estaria isenta do desejo de abusar do poder.
     Talvez ela não abuse tanto quanto poderia, ou talvez ela tenha uma resistência maior à tentação.

     Agora vamos ser um pouco menos pessimistas. Existe um pré-determinismo que faz com que se saiba qual pessoa não se corromperá? Mesmo se supormos que a corrupção seja inevitável, é possível saber quem irá resistir mais e quem irá abusar menos? No fundo, as pessoas têm um determinismo biológico/cultural ou será que há um poder de decisão que ultrapassa qualquer vocação (vocação como sinônimo de "chamado")?
     Há de fato um livre-arbítrio? A decisão de um homem ou de uma mulher pode competir contra a natureza e a sociedade?
     Eu penso que não há determinismo para os indivíduos. Penso que existe um poder de escolha. Também penso que, mesmo que as pessoas errem, elas conseguem se arrepender e conseguem aprender com a culpa e com o passado.
     Talvez sejamos maus, mas podemos ser bons.


Tenham um bom dia