quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Ódio e hipocrisia

    Está escrito no mandamento divino que não se deve matar. A esse entendimento, Jesus disse que já pecou quem matou o irmão em seu coração. Pretendo aqui fazer algumas reflexões e desabafos sobre isso.

     É triste viver em um mundo em que existe satisfação com a morte de outro ser humano, e em que se deseja o mal. Em alguma medida, podem indicar algum impulso moral por justiça (dar o mal a quem praticou o mal) ou podem ter pouco impacto, no entanto parece que em nossa sociedade (não sei dizer das outras) isso é patológico.
     Quero chamar especial atenção para o desejar mal a outra pessoa não como uma punição justa, mas como um desejo do mal pelo mal. Na política, há pessoas se alegrando com o sofrimento de Dilma (ela claramente demonstra atitudes de alguém que passou de seu limite psicológico e certamente sofre em suas circunstâncias), ou com o sofrimento de criminosos, criticando parte da "direita", ou pessoas se alegrando por Olavo de Carvalho ter xingado o Rodrigo Constantino, ou pela morte do filho de personalidades de direita, criticando parte da "esquerda". A situação se torna patológica quando o que se combate não é a ideia, mas a pessoa que a defende.
     Em casos específicos, a pessoa que defende uma ideia má ou age de modo ruim deve ser punida, mas não pelo mal em si mesmo, e sim pela relação da pessoa com o mal. Ocorre que muitas vezes a pessoa que defende uma ideia diferente passa a ser ela algo a ser destruído, de modo que qualquer de seu sofrimento seja motivo de alegria. Exemplifico: um criminoso deve ser punido, porém não é moralmente lícito que alguém viva se deleitando de qualquer de seus sofrimentos. A pena é aquela determinada pela autoridade. Alegrar-se por ele ficar traumatizado psicologicamente, ou por ser ferido, ou por ter familiares doentes, ou por morrer é um ato que viola a dignidade dele enquanto ser humano (a pena não viola por obedecer à justiça, mas esse não é o tema).
      Um ato nobre e moralmente bom é o que devem procurar fazer os cristãos: amar a quem nos odeia. Um exemplo comovente são os católicos que rezam por Richard Dawkins (http://conscienciacrista.org.br/apos-derrame-do-ateu-richard-dawkins-usuarios-do-twitter-discutem-se-devem-orar-por-ele-ou-nao/). Por quê? Por que amar a quem defende aquilo a que odiamos? Por que ele é um ser humano; e é um ser humano independente do que pensa ou de como age. Suas ações e pensamentos têm punições, mas punir não significa não amar (bem sabem os pais). O dever de caridade implica no reconhecimento do outro como alguém a quem se deseja o bem.
      Considero atitudes próprias a de hipócritas desejar um mundo bom, mas odiar ao próximo que defende coisas diferentes, seja conservadores, sejam socialistas. Se você não está disposto a lutar internamente a favor do que prega, então você é um hipócrita. Não se alcança o bem sendo mal, isso é o que precisa ser entendido. O raciocínio é simples: se não quero viver em uma sociedade com pessoas desejando o mal às outras, que eu me esforce para ser aquilo que quero que os outros sejam

Extra: Hitler

     Ninguém comenta nada por aqui, mas antecipo pensamentos de que odiar Hitler é algo bom. Na verdade, odiá-lo não é bom não. O ódio deve recair sobre duas ações e pensamentos, mas estender isso à pessoa dele é mau. Ele deve pagar por tudo o que fez, mas desejar que ele seja punido por justiça não é o mesmo que desejar que ele sofra apenas pelo prazer de vê-lo sofrer.
     Em situações extremas, como a de um caso em que você tem sua vida ameaçada, é lícito se defender e até mesmo matar ao agressor, porém não é moralmente lícito desejar a morte dele em si, apenas desejar a morte dele enquanto meio para você sobreviver, e essa diferença repousa sobre o dever moral de caridade, de amar o próximo como a si mesmo, e eu considero a forma mais segura de fazer isso é por amor ao Amor.

Tenham uma boa semana.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Homens, aborto e abandono

    Tem corrido nesta semana nas redes sociais caso de pais que abandonam filhos com microcefalia por conta desse surto que o Brasil passa. Não posso afirmar com certeza pois só agora pensei em falar sobre o assunto, mas parece que isso pode servir para se dizer "os homens são contrários ao aborto, mas quando eles estão envolvidos, querem abandonar a mulher por causa de um filho" ou algo assim. Penso que isso tem alguns pressupostos errôneos envolvidos.
     Primeiramente, assim como vários discursos feministas, parte-se de um conflito entre homens e mulheres, dois grupos com alguns interesses inconciliáveis. Parte-se de uma generalização sobre o que os homens defendem e o que as mulheres defendem. Isso é errôneo. Primeiramente, não são todas as mulheres que são favoráveis ao aborto, e nem todos os homens são contrários.
     Em segundo lugar, aponta-se para uma incoerência do grupo dos homens, que supostamente não querem o aborto mas vão abandonar a mãe caso ela tenha um filho. Essa incoerência apenas existe se se considera os homens como um grupo homogêneo. Na verdade, os conservadores sempre têm apontado que muitos homens são favoráveis ao aborto, muitas vezes são eles que induzem as mulheres a abortarem, pois na prática eles querem menos a existência de uma família (tanto em termos de matrimônio quanto em geração de filhos) do que a mulher. Quando a mulher engravida, eles sentem que pode vir responsabilidade e tentam fugir disso, e de um modo covarde e pouco viril tentam fazer a mulher abortar dizendo que não será nada, que não é o momento, que é ele quem paga as contas, que irá estragar a vida deles, que irá abandonar a mãe. Obviamente qualquer pessoa com o mínimo de senso moral considera isso um ato horrível, primeiro pelo aborto em si, segundo pela pressão à mulher, e terceiro pela covardia masculina.
     Ocorre que há também homens contrários ao aborto, e esses homens com um mínimo de dignidade também são contrários a se abandonar a mulher caso ela tenha um filho. Dentro das pessoas contrárias às mulheres, há também mulheres que fazem um ótimo serviço em dar apoio a gestantes que pensam em abortar ou que têm dificuldades em manter o filho na gestação. Esse grupo passa também por uma generalização. Feministas dizem defender a mulher, e um dos meios para isso é defender o aborto. Por um raciocínio indutivo, acabam concluindo que quem é contrário à mulher é o homem, e as mulheres que são contrárias estão se aliando aos homens. Daí, o grupo de pessoas contrárias ao aborto acaba sendo jogada para o grupo "dos homens", como se tal grupo existisse para além do mero fato de ser homem e houvesse uma ideologia homogênea.

     É realmente uma tragédia a situação em que homens pouco compromissados com valores morais tentem fazer as mulheres abortarem ou as abandonam. Dessa realidade, os conservadores não fazem como as feministas e querem defender o aborto para a mulher também se livrar da responsabilidade, mas defendem que é preciso que os homens tomem vergonha na cara e aceitem que suas ações têm responsabilidades, que as mulheres saibam escolher bons pais para seus filhos, que ambos saiam de uma vida devassa e passem a dar valor ao matrimônio e à família. É tão abominável isso? Que a igualdade entre os sexos seja não em meio a uma liberdade autodestrutiva e que fere a dignidade humana, mas se dê de modo saudável e maduro.

Passo aqui uma série de links sobre aborto, feminismo e outras coisas relacionadas.
Entrevista com Sara Winter por Evandro Sinotti - ex feminista é entrevistada em uma excelente entrevista.
Documentário Blood Money - sobre o que o aborto nos EUA está causando. Mais especificamente, tem um relato da relação com rituais satânicos.
Sobre o aborto seguro, tem uma postagem do Padre Paulo Ricardo e indico outra sobre os danos psicológicos.
Outra postagem do Padre Paulo Ricardo sobre a estratégia mundial do aborto.
Documentário O grito silencioso - não assisti ainda, mas falam que é bom.
Relato de Elba Ramalho, que abortou, se arrependeu e agora luta contra o aborto: Tem uma entrevista menor e outra maior.