Agora que temos uma ideia mais ou menos definida, vou trazer um exemplo para ilustrar meritocracia e resultados.
Imagine três irmãos. Todos eles saíram de casa e prometeram à mãe que enviaram uma carta após um mês.
O primeiro estava, certo dia, conversando com um amigo. Este lhe disse que iria passar pelo correio. O primeiro irmão lhe entrega a carta para que o amigo a deposite no correio. Ocorre, porém, que este amigo se esquece de depositar a carta. O primeiro irmão pensa que estaria tudo certo e nem pergunta ao amigo se ele depositou a carta.
O segundo irmão também confiou ao amigo a carta. No entanto, o segundo, preocupado, pergunta se o amigo depositou a carta, e este responde que esqueceu. O segundo irmão, então, pega a carta e a deposita no correio. No entanto, o correio entrou em greve. O segundo irmão ouve a notícia da greve, mas não a associa com a carta enviada.
O terceiro irmão passa pelos mesmos problemas, no entanto, ao saber da greve, ele escreve uma nova carta e a envia à mãe por outro amigo que iria voltar à sua cidade. Contudo, sua carta se molha na viagem, de modo que se torna um pedaço molhado ilegível de papel.
Qual seria dos irmãos o que tem maior mérito, o que merece receber mais, o mais digno de elogio? Todos são iguais em mérito?
Observamos que o resultado dos três é o mesmo. Todos falharam em fazer a carta chegar à mãe. No entanto, o terceiro irmão se esforçou mais. Ele tentou fazer o máximo para que a carta chegasse. O primeiro irmão foi o que menos fez, o mais despreocupado. O resultado foi o mesmo, mas me parece que o terceiro tem maior mérito, e o primeiro o menor.
Daí podemos concluir que a meritocracia não tem relação necessária com os resultados, mas com o esforço individual ou coletivo.
Conforme as relações econômicas se tornam menos pessoais, ou seja, você compra algo sem saber sobre a vida pessoal de quem está lhe vendendo ou produzindo o bem, há uma tendência a se desconsiderar o mérito e pensar mais em resultados. Em uma relação impessoal, você não quer tanto a conduta proba e diligente do outro, mas sim o resultado. Quando a relação é pessoal, você também quer o resultado, mas o seu desejo por diligência e probidade são maiores.
Este parágrafo não pretende exatamente defender o capitalismo, é mais uma análise neutra, embora no íntimo tendenciosa. O capitalismo, por conta do aumento da complexidade das relações econômicas e sociais, tem uma tendência a exigir resultados, e não o mérito. A conduta de um "bonus pater familias" (traduzindo não literalmente, é a ideia do tal homem diligente e probo) só interessa na medida em que garante o resultado.
É isso. Tenham um bom dia.
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