sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Duas formas de enxergar a tradição

     Desculpem pela demora entre as postagens, vou aproveitar também para desejar um bom ano novo.

     Neste tópico, vou tratar de duas formas de se enxergar a tradição, uma de forma positiva, outra de forma negativa. A forma positiva tem uma variante bastante aceita de uma análise prudente. Só para esclarecer, a tradição é um hábito passado de geração em geração, pode ser sobre uma forma de pensar, sobre uma forma de proceder, um simples costume.
      Em uma visão, por assim dizer, mais conservadora, considera que aquilo que é tradição é um fruto de tentativa e erro. As ações individuais ou sociais passam pelo teste do tempo, que começa a filtrar aquilo que não é eficiente. É, digamos, uma seleção natural de instituições e comportamentos. A partir desse ponto, existem duas abordagens mais conservadoras. A primeira excessivamente positiva neste aspecto, considera a tradição algo positivo nela mesma, que deve ser defendida porque funcionaram por gerações, e não se pode simplesmente mudá-las, o que causaria uma violação daquilo que é natural. Uma segunda abordagem, ainda conservadora, porém mais pautado na prudência, considera que qualquer mudança na tradição deve ser vista com cuidado, principalmente naquilo cuja estrutura e funcionamento seja mais abstrato, por exemplo é mais perigoso realizar mudanças no funcionamento da família do que no uso de uma erva na cura de uma ferida por a primeira ter um funcionamento mais profundo na sociedade. Por a racionalidade humana ser limitada e por envolver complexas relações intersubjetivas, o funcionamento de algumas estruturas tradicionais têm efeitos que o ser humano não consegue compreender completamente, daí a mudança deve ocorrer com muita cautela, mais se preocupando se as mudanças vão para a direção correta do que se avança rapidamente, mas a tradição não pode ser levada a um respeito extremo.
      Vou tentar explicar uma segunda linha. Ela se baseia na existência de uma dialética histórica, ou seja, em uma visão da história baseada no conflito de classes ou instituições. Existe um progresso baseado na superação da situação anterior, seja uma classe superando outra, seja um conjunto de instituições superando outro. Nesse sentido, o progresso deve se pautar na superação do paradigma existente, normalmente pela eliminação radical de heranças anteriores, ocorre muito frequentemente em movimentos a favor de minorias, que defendem a eliminação radical de estruturas opressoras. Basicamente, essa linha defende que a tradição é algo negativo. Uma segunda linha de justificação bastante comum é a de que o estado natural do homem é algo positivo, mas as instituições humanas são negativas (uma visão ainda mais radical do que a de Rousseau, de que o homem nasce livre, mas encontra grilhões por toda parte), então essas instituições devem ser eliminadas pela liberdade humana.

     Agora vou explicar um pouco mais minha visão predominante (predominante por ser possível haver uma mistura dessas perspectivas conforme a posição, embora seja bom haver uma coerência interna), a conservadora mais prudente. Uma questão seria como realizar a análise de mudanças nas instituições, já que elas são possíveis. Existem alguns aspectos que têm peso. A primeira é uma análise por princípios. Os princípios não devem ser vistos como finalidades, mas como fundamentos que devem ser seguidos. Os princípios bons geram frutos bons sobretudo a longo prazo. Algumas pessoas desta linha consideram que os efeitos imediatos devem ser considerados com um peso especial por terem um efeito direto, eu, pessoalmente, acho que efeitos negativos de curto prazo podem ser o preço para efeitos positivos a longo prazo, e não se pode esperar não haver efeitos negativos imediatos, pois essa espera pode ser para sempre, pode ser um preço necessário. Uma segunda forma de analisar é por exemplos concretos. Normalmente essa visão concorda com a liberdade de pessoas agirem de forma diferente do que é institucionalmente protegido ou regulado; assim que a ação das pessoas fora do paradigma se mostrem melhores ou tão bons socialmente pelo teste do tempo, isso serve de argumento para que seja aceito dentro do paradigma, ou modificando o próprio paradigma.
     Creio ser preciso haver um olhar desconfiado para grandes mudanças sociais, elas podem ocorrer, mas devem ser analisadas com cuidado, por envolver estruturas muito profundas na sociedade.

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