O senhor azul foi assaltado certo dia. Ele acaba relatando o ocorrido para seus amigos, o sr. verde e a sta. amarela. Após o relato, o sr. verde diz:
- Sei que o evento pelo qual você passou foi trágico. Você devia saber que aquela praça é perigosa. Nas últimas semanas tem muitas pessoas que são roubadas lá. As coisas não são mais como no nosso tempo, em que você podia andar sossegado pela nossa cidade. Hoje a criminalidade está a mil.
- Você está me dizendo que eu não tenho o direito de andar no lugar que eu quiser?
- Direito você tem, mas não foi uma escolha sensata. Se você pode caminhar em um lugar bem vigiado, sem ocorrências de crimes, ou em um lugar que nem passa polícia, que há um crime por dias ou mais, então é prudente escolher caminhar no lugar mais seguro.
E a srta. amarela diz:
- Ainda bem que não te aconteceu nada pior...
- Eu fui assaltado! Devo ficar feliz por isso?
- Eu não disse isso, disse que poderia ser pior. Eles poderiam, por exemplo, ter te matado. Mas eu também sempre te alertei para não andar com a carteira tão à mostra.
- Então eu não posso fazer o que quero com o que é meu?
- Pode, eu não estou dizendo isso. Ah, e também, é bom você andar acompanhado se for para esses lugares.
O sr. azul fica irritado.
- Vocês dois estão defendendo bandido! Que absurdo é esse?! Estão dizendo que são os criminosos que mandam no lugar em que eu caminho, que eu não posso ficar andando com a carteira do jeito que eu quero. Pois saiba que eu tenho o direito de fazer o que eu quiser da minha vida, estão entendendo? Eu ando onde eu quiser e deixo minha carteira onde eu quiser.
- Está bem, mas depois não reclame se for assaltado de novo.
- Você está defendendo o bandido!
- Eu não estou. Só estou dizendo que você deve se cuidar.
- Isso é uma ameaça?
- É claro que não. Você é burro? Não consegue entender o que eu estou falando?
- Estou entendendo bem demais.
...
Caros leitores e leitoras, inicialmente quero pedir perdão por ter diminuído as postagens, mas espero que agora eu retome a atividade.
Na discussão acima, creio que há dois pontos de vista sobre o roubo. O primeiro é o ponto de vista realista, no sentido que parte do pressuposto de que o roubo acontece, que há lugares mais perigosos que outros, e que as pessoas devem ser atenciosas com a criminalidade. O segundo ponto de vista é o de que o roubo é errado, e nunca pode ocorrer.
Como podem observar, não são pontos de vista paradoxais, um não anula o outro. A verdade é que quando pessoas partes de pontos de vista diferentes, seja por uma visão ideológica ou por estar psicologicamente afetado, podem acabar gerando discussões desnecessárias por não aceitar o que o outro diz, pensando que o que o outro diz é mais do que efetivamente foi tido.
Meu ponto de vista é muito simples: o crime é errado, porém não podemos partir do pressuposto de que o mal não existe. Se queremos preveni-lo, temos que traçar uma estratégia para que não nos atinja. Creio ser um raciocínio simples este o meu, mas que, porém, pode gerar mal entendidos tremendos, sobretudo se uma das partes estiver cega para os argumentos diferentes.
A culpa não é da vítima, é do bandido, o que não significa que a vítima não pode fazer nada para evitar ser vítima.
Obs.: Para entenderem o que quero dizer por essa cegueira, leiam novamente o trecho, substituído "roubo" e "assalto" e seus verbos e derivações por "estupro". Troquem o sr. azul pela sra. rosa. Troquem "bandido" por "estuprador". Substituam alusões à "carteira" pelo modo de se vestir.
É isso, tenham uma boa tarde.
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