Brabâncio, com raiva de Iago disse: "Sois um vilão"
Iago, muito esperto, responde: "E vós... Um senador"
Assim escreveu o poeta a imagem negativa dos políticos de forma magistral. O poeta é Shakespeare e a obra é Otelo.
Vemos a política como um ninho de homens maus, egoístas, maquiavélicos. Assim olhamos a política com desinteresse e apatia. Exigimos mudanças, mas sabemos que não vão ocorrer. E nós mesmos não buscamos a mudança, já que para mudar é preciso sujar as mãos. Vemos um ciclo vicioso em que queremos mudança, mas não a fazemos.
Mas estamos em uma ilusão. A política não vem necessariamente de cima para baixo, das prefeituras para a sociedade. A própria população se torna inerte ao se afastar da política ao mesmo tempo em que acha que só a política pode gerar mudança.
Se descobrirmos que cada indivíduo pode gerar a mudança por si, então compreenderemos que podemos ser políticos sem a política institucional. Podemos participar de campanhas de doação de agasalho, comida, literalmente doar nosso sangue. Podemos participar de manifestações. Tudo isso emana da ação individual, tudo isso cada um pode fazer sem necessidade de senadores e deputados. A própria conversa é uma ação, podemos convencer amigos a ajudarem em uma campanha de arrecadação de leite.
Os pais têm a responsabilidade de cuidar de seus filhos, certo? Em alguns momentos, os pais podem delegar essa responsabilidade. Mas não é correto eles abandonarem os filhos aos cuidados dos outros. Mesmo que o outro possa cuidar do filho melhor do que os pais, a responsabilidade é dos pais, eles devem ter o papel ativo na vida dos filhos
De quem é, a priori, a responsabilidade de ajudar o próximo? Vejo três respostas:
1. Não existe essa responsabilidade - não irei abordar essa posição dessa vez.
2. A responsabilidade é de cada indivíduo.
3. A responsabilidade é da sociedade.
Ora, se a responsabilidade é da sociedade, aquela só existe se esta existir. Portanto, os indivíduos sozinhos não têm responsabilidade. Só quando se unem passa a existir esse dever. Me parece que essa resposta joga a obrigação para uma ficção, para algo que não existe. É uma forma de se isentar de seu próprio dever. Não estou pensando do ponto de vista jurídico, mas da moral.
Se uma pessoa que você não conhece desmaia da sua frente, você tem o dever de fazer alguma coisa, moralmente falando? Creio que sim, mesmo que vocês não se conheçam e mesmo que não façam parte de uma mesma sociedade. Assim, concluo que o indivíduo tem a responsabilidade de ajudar o próximo.
Se nós somos temos esse dever, até que ponto é justo transferirmos ele para os políticos, para os representantes da sociedade? Transferir algo que é nossa obrigação para outro não é lavar as mãos, por mais que o outro possa fazer melhor do que nós? É claro que algumas coisas inevitavelmente teremos que transferir ao outro, não somos oniscientes e onipresentes. Mas não é correto fazer isso para se isentar de qualquer culpa. Os pais são responsáveis pelos filhos e devem ter um papel ativo na vida deles.
Então mesmo se acharmos que os políticos são corruptos, ainda assim temos o dever de ajudar o próximo. Se cada um fizer uma pequena coisa, não será mais grandioso do que se os políticos fizerem uma grande coisa? Pensar que para mudar algo é preciso ser grande é um equívoco. Podemos mudar de baixo para cima, da população para as instituições políticas. Podemos alterar a base para modificara estrutura. E daí a importância das ideias.
Tenham um bom dia!
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