Com frequência ouvimos os pais dizerem aos filhos: "primeiro o dever, depois o prazer" ou coisas do tipo. Vamos explorar um pouco essa ideia?
Seria apenas um meio para o filho fazer as tarefas? Se você não fizer as tarefas não vai jogar vídeo game. Ou será que existe algo mais profundo?
Creio ser natural que primeiro se trabalhe e depois se desfrute o fruto do trabalho. Primeiro deve-se plantar e colher, depois comer. Antes deve-se subir na árvore, apanhar a fruta, fazer o suco. Só depois se pode beber o suco. Há naturalmente um mecanismo de incentivos: você só vai obter a carne assada se antes caçar e acender a fogueira. Se não fizer nada, não vai ter seu jantar.
Parece-me, após pensar isso, que é de suma importância ensinar às crianças a importância do trabalho. Ao analisarmos profundamente, o trabalho não é uma obrigação, é uma necessidade. A questão que surge é como melhor relacionar o trabalho demandado e a recompensa. Deve haver um equilíbrio, um trabalho mais difícil exige uma recompensa maior. Sem essa relação, não há estímulo para as pessoas se esforçarem mais (exceto, talvez, o próprio prazer de realizar a coisa).
O dever exigido e a recompensa não precisar ser ligados por uma relação natural, necessária. Os pais podem criar a relação: Se meu filho ler um livro por mês, poderá sair com os amigos no mês seguinte. (só um exemplo para ilustrar, não vou discutir agora se leitura é só um fim ou pode ser um meio).
Mas pode surgir a questão: Mas o trabalho não é necessariamente a fonte das coisas que temos. Outra pessoa pode nos dar.
Sim, os pais podem dar dinheiro para os filhos. As pessoas podem obter empréstimos nos bancos etc. O dinheiro que guardo no banco gera mais dinheiro sem esforço.
Os pais podem dar dinheiro para os filhos. Os pais trabalham para obter esse dinheiro. Os filhos devem saber que o dinheiro não é infinito, devem entender que há limites e devem buscar a própria independência. Os pais não podem simplesmente dar dinheiro para os filhos sem qualquer condição ou sem avaliar o que o filho faz.
As pessoas podem obter empréstimos nos bancos sem qualquer trabalho. Mas, ao fazerem isso, criam uma "recompensa negativa". Os trabalhos futuros não poderão ter seus frutos 100% aproveitados, uma parte será usada para quitar a dívida inicial. Há uma mudança temporal de trabalho e recompensa (como quando um funcionário pede o adiantamento do salário). Mas há um condicionamento. As pessoas só emprestam dinheiro se esperarem que o outro trabalhe. Se o outro não trabalhar, então não vale a pena emprestar dinheiro. Se o outro gasta o dinheiro emprestado e depois pede mais, o banco irá recear em emprestar de novo. O empréstimo só funciona se a pessoa que pede emprestado trabalhar. Vez ou outra não dá certo, mas o esperado e o desejado é que dê.
O dinheiro guardado no banco gera mais dinheiro sem esforço. Nesse caso você está investindo seu dinheiro. Você investe sem dinheiro em alguém que irá trabalhar. Essa pessoa trabalha e lhe dá parte do dinheiro em troca da sua ajuda inicial. Você está usando seu excedente para permitir que os outros façam um trabalho mais lucrativo em troca de alguns lucros que serão ganhos. Não entra exatamente como um trabalho, mas como um sacrifício individual que é muito semelhante ao trabalho: Você não consome tudo o que produz, guarda um pouco. Você não aproveita tudo agora para aproveitar mais depois.
Bem, é isso, aceito dúvidas, críticas e comentários.
Tenham um bom dia!
Riqueza não é dinheiro, decerto. Sua colocação é pertinente tendo em vista que a riqueza material é fruto do trabalho, tanto é assim que medimos o valor da moeda de um país pelo seu PIB, ou seja, o que ele produz = trabalho.
ResponderExcluirPorém nem todos os trabalhos são iguais obviamente, e o mais curioso é que os trabalhos com maior remuneração não são necessariamente os mais importantes do ponto de vista social, e sim os mais raros. Um lixeiro por exemplo executa um trabalho essencial para a manutenção da saúde humana, uma semana sem o seu trabalho e nem poderiamos imaginar o transtorno, apesar de importante, o seu trabalho é pouco valorizado, nos termos mercadológicos o profissional que realiza esse trabalho é abundante e por isso seu valor é baixo. Hum, então a lei de oferta e procura rege estas relações, e sua importância é relegada à quantidade de pessoas disponíveis para realizar essa tarefa. Infelizmente ou felizmente é assim, a tal distribuição de renda só se dá quando aumentamos o valor agregado do trabalhador, se ele está um pouco mais qualificado ele ganha mais. Tudo indica até o momento que temos então que qualificar os trabalhadores para elevar os salários. Num primeiro momento sim, é o nosso momento, todos buscam qualificação, curso superior, estágios, especialização, aprimoramento etc. Até que todos tenham estudo e uma boa profissão, boa profissão? Sim, um conceito no mínimo complexo. Estudo já não é sinônimo de boa remuneração. Hoje um pedreiro sem estudo tem remuneração três vezes maior que um professor. E assim acontecerá com outras profissões que não eram consideradas boas, como doméstica, eletricista, encanador, pintor, garçom, etc. Esses profissionais estão cada vez mais escassos no mercado e a remuneração pelo seu trabalho será cada vez maior.
O trabalho já não deve ser sinônimo de tarefa árdua e sim de prazer, afinal um terço de nosso dia é dedicado ao trabalho, imagina passar a vida fazendo algo que não curte? Bom, daí então a pessoa optar por uma profissão que apesar de ganhar pouco, ama o que faz, a recompensa é bem maior!!
Trabalhe no que ama, e não trabalharás um dia sequer!! Provérbio chinês!