Mesmo que sejam poucos os meus leitores se comparado com outros grandes sites ou tipos de mídia, vou alertá-los: cuidado com o plebiscito constituinte! Podem pensar que sou um cara que acredita em teorias da conspiração ou qualquer coisa assim. Mas por favor leiam o que escrevi e depois comentem dizendo se discordam ou não.
Primeiro, um indivíduo toma decisões mais sábias se estiver calmo, fora de um momento de tensão, certo? A mesma lógica se aplica a várias pessoas reunidas. Bem sabemos que os brasileiros e brasileiras estão agitados, basta ver as manifestações. Mudar a constituição é uma coisa muito séria. Queremos mesmo tentar agora mudar esse pilar da democracia?
Segundo. Quem garante que esse plano vai dar certo? Dizem que a população vai conseguir participar diretamente de certas decisões. Não é bem assim.
Art. 10, I, do decreto 8.243: "presença de representantes eleitos ou indicados pela sociedade civil, preferencialmente de forma paritária em relação aos representantes governamentais, quando a natureza da representação o recomendar;"
Serão representantes. Se grande parte das pessoas hoje não tem tempo para a política, quem terá tempo para ser um "representante da sociedade civil"? E quem irá fiscalizar? Haverá mesmo uma mudança tão grande assim? Vale a pena correr o risco?
Terceiro, qual é o histórico de mudanças parecidas?
1) Argentina
Fontes: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/03/kirchner-nega-reforma-constitucional-visando-terceiro-mandato.html e http://www.conjur.com.br/2013-jun-29/observatorio-constitucional-corte-argentina-declara-inconstitucional-reforma-judicial
Primeiro, surgem ideias de mudar a constituição argentina para permitir mais reeleição. O povo não gostou muito. A presidente voltou atrás. Então apresenta uma nova proposta:
"A proposta é
que a totalidade dos membros do Conselho da Magistratura sejam eleitos pelo
povo"
Essa proposta foi negada pela Corte Suprema da Argentina por ser inconstitucional. seria “uno de los
asaltos más flagrantes a la separación de poderes que se recuerdan en una
democracia homologada”.
O site ainda diz: "Em tempos de evidente crise da
democracia representativa, a qual é vivenciada neste exato momento pela maioria
das democracias constitucionais (inclusive no Brasil, como demonstra a
insatisfação popular presente nos protestos que tomaram as ruas de todo o
país), é comum que as vias de solução para os problemas enfrentados sejam
buscadas através de raciocínios simplórios que encontram na vontade popular
expressada por eleições diretas todo modelo de justificação e de legitimação do
poder, inclusive do poder judicial." [poder judicial? lembra algum projeto legislativo no Brasil?]
2) Venezuela
Fontes: http://www.osconstitucionalistas.com.br/venezuela-golpe-ou-respeito-a-constituicao, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft31089901.htm, http://litci.org/especial/index.php/polemicas-2/bolivia-1952/bolivia-artigos/1868-aprofundar-a-democracia-ou-lutar-pelo-poder.
"Hugo Chávez convocou um plebiscito para aprovar a instalação de
uma Assembleia Nacional Constituinte. O povo decidiu apoiá-lo. A Constituinte
foi convocada, editou uma nova Constituição, que por expressa disposição nela
contida[3], foi submetida a referendo popular. A nova
Constituição, ao final, foi referendada pelo povo, em 15 de dezembro de 1999."
"Constituinte "fecha" Congresso
A Assembléia Constituinte da Venezuela decidiu ontem (30 ago. 1999) anular as
funções do Congresso, o que, na prática, significa o fechamento do órgão.
A constituinte, dominada por partidários do
presidente Hugo Chávez, tomou para si os poderes das únicas três comissões que
estavam autorizadas a funcionar no Congresso, segundo decreto emitido na última
quarta-feira."
"A armadilha da Constituinte é muito mais perigosa na
Bolívia que na Argentina
Esta maior
periculosidade deve-se a dois fatores. O primeiro tem a ver com que, ainda que
não totalmente definido, haveria acordo entre o imperialismo e a burguesia
boliviana em desmontar a revolução a partir de um processo eleitoral, e a
convocatória de uma Assembléia Constituinte é uma das variantes que se está
discutindo. Isto quer dizer que a proposta de quase toda a esquerda pode chegar
a coincidir com a arma com a qual o governo e o imperialismo tentam desativar a
revolução.
O outro
elemento tem a ver com que, diferentemente da Argentina, na Bolívia existem
setores do movimento de massas que vêem com expectativas a convocatória de uma
Constituinte. Isto se dá especialmente em setores camponeses, em sua grande
maioria quechuas, aymaras e outros povos nativos, que associam a Constituinte à
resolução de suas reivindicações de nações oprimidas. Eles caem na ilusão de
acreditar que, como são maioria na Bolívia, seriam também maioria em uma
Assembléia Constituinte eleita por sufrágio universal." [grifos meus]
3) Rússia (não procurei pela Rússia, ela simplesmente surgiu na minha cara, e achei bom colocar)
"Trata-se
de uma situação similar à que se colocou na Rússia em 1917. Ali, durante todo o
processo de luta contra o czarismo, a palavra de ordem de Assembléia
Constituinte ocupava um lugar central para os bolcheviques. Mas a partir da
derrota do czarismo, os bolcheviques orientaram sua política até o poder
operário. No entanto, produto de que a Rússia nunca havia sido uma república,
existiam grandes ilusões na democracia burguesa e no que se poderia conseguir
com a Assembléia Constituinte. Apesar disso, os bolcheviques não chamaram a “impor uma
Assembléia Constituinte ‘revolucionária’ ” para ajudar os operários e camponeses a convencerem-se de
que tinham que tomar o poder. Pelo contrário, retiraram a Constituinte de sua
agitação central e seu eixo foi convencer as massas russas de que a única
maneira de conseguir paz, pão e terra era com todo o poder aos sovietes." [grifos meus (exceto o que está entre aspas)]
Muito bem, agora vamos para o que eu NÃO disse. Eu não disse que o plebiscito é um golpe. Acredito que seja, mas é uma impressão minha, não tenho provas para dizer que é, sem sombra de dúvida. O que eu digo é "tenham cuidado".
Tenham cuidado. Tem um ditado que diz "quando a esmola é grande, até o santo desconfia". Acham que o PT é um grupo de pessoas abnegadas e benevolentes, e esse mesmo grupo vai atender às demandas sociais sem qualquer interesse obscuro?
E uma outra questão (esta eu deixo sem resposta): Por que isso tem um histórico parecido na Argentina e na Venezuela?
É isso. Tenham um bom dia!
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