Uma das críticas das feministas à sociedade machista em que vivemos é a de que na sociedade capitalista usa a mulher como objeto sexual. É claro que poderíamos colocar em dúvida se a sociedade é realmente machista, o que é o machismo, qual a relação entre machismo e capitalismo (que para muitas feministas é tão automática) etc.
Ok, vamos colocar de forma organizada os pressupostos e as críticas dessa frase:
a) "Carne" aqui se refere à relação sexual, creio que todos saibam, mas não é demais lembrar.
b) É negativo ser visto como objeto sexual. O ser humano é composto por outras dimensões além da carnal, como a afetiva e sentimental, a racional, ou mesmo a que trata da beleza em um sentido mais sublime e gracioso. Assim, não é legal ver o outro como objeto sexual.
c) O feminismo luta contra a mulher ser um "pedaço de carne", um objeto a serviço da mera satisfação dos prazeres sem se valorizar a individualidade.
d) O feminismo é o melhor meio que a pessoa da foto possui para não ser "um pedaço de carne".
Não vou tratar do "d" profundamente, só vou dizer que o verbo "precisar" é muito forte. Quando penso muito nessa palavra, me vem a ideia daquele bichino de "O senhor dos anéis" que diz "meu precioso!"
Ok, vamos partir de uma reconstrução histórica de uma sociedade anos atrás. Nela não havia pílula do dia seguinte, camisinha. Eis que surgem os movimentos feministas que defendem que o corpo da mulher não é um objeto sexual. Surgem também os anticoncepcionais.
Agora, vamos para hoje. O que eu quero constatar aqui? Hoje, homens e mulheres "ficam" nas festas. Hoje, muitas mulheres não gostam de cantadas na rua, por acharem que isso é tratá-las como objeto.
O "ficar" se tornou uma prática abominável em que pessoas que nunca se viram mais gordas muitas vezes fazem aquilo que os casais de algumas gerações atrás só faziam após o casamento. E o objetivo do "ficar" muitas vezes é exatamente esse: dormir com alguém que o ficante ou a ficante nunca viram e nunca tornarão a ver. Tocante, não é? Dá vontade de chorar de agonia ao ver o mundo se corrompendo diante de meus olhos. Ou seja, o "ficar" acabou se tornando uma conduta em que o outro serve apenas para a satisfação dos interesses do outro. Isso Huxley definiu muito bem com o lema "todos são de todos" em sua obra "O Admirável Mundo Novo" (fica a dica de leitura).
Aqui, vocês, caso não tenham clicado no X do navegador ao ler tamanho absurdo, podem estar pensando que sou um retrógrado, ultraconservador e me colocarem em outros grupos assim. Peço, contudo, que leiam o item "b" acima.
Oh, mas espera. Há mulheres que odeiam serem cantadas na rua por isso as considerar um mero objeto sexual. Essas mesmas mulheres podem também ir a festas em que elas veem os outros como objetos para mera satisfação dos prazeres, muitas vezes como objetos sexuais, e também são vistas pelo outro da mesma forma - e gostam? Que atitude esquizofrênica essa!
Caro leitor ou cara leitora que podem estar meio confusos com a situação, é claro que deve haver alguma justificativa racional que permita a compatibilidade desses dois comportamentos. Devemos (nós - eu e você) admitir que somos ambos burros por não conseguirmos imaginar qual seria essa justificativa (caso você saiba a justificativa, eu serei burro sozinho).
Mas vamos tentar explicar mesmo assim. Alguém mais crítico do que eu poderia dizer que a mulher em questão acha o pedreiro feio, e acha o mocinho da festa, bonito, e por isso aceita a segunda situação e não a primeira. Na verdade a justificativa dada pela mulher seria apenas para manter a imagem social. Não vou defender esse ponto de vista. Parece-me mais acertado pensar (talvez não diferindo muito da pessoa que alegue a defesa acima) que a primeira situação apresenta apenas um sujeito beneficiado pelo comportamento - o cara que canta. Já na segunda, tanto a mulher quanto o homem que ficam se acham beneficiados.
A questão não é ser objeto sexual. A questão é ser objeto sexual e não ter o outro como objeto sexual. O que é importante é a igualdade. Então estamos caminhando para uma sociedade mais igualitária devido ao feminismo. Viva à igualdade! Todos poderemos ser objetos uns dos outros. "Todos são de todos!".
Vamos com calma. Acho muito legal quebra de tabus que o feminismo trouxe. Contudo, acho que não é legal todos serem objetos para satisfação dos interesses dos outros, mesmo que possam fazer o mesmo, e que isso se dê espontaneamente. Não digo que tal atitude deva ser proibida, estou longe de dizer isso. Digo que, moralmente, é uma atitude reprovável.
O ideal parece ser uma sociedade em que as pessoas tratem umas às outras como sujeitos, valorizando a amizade, a fraternidade, os sentimentos e emoções do outro. Se quem me lê é feminista e concorda com esse meu ideal tímido, porem grandioso, lembre-se de não defender somente a igualdade, mas a igualdade como pessoas. A luta não deve ser para um "liberou geral", mas para um estado de valorização do outro como ser humano.
Obs.: Embora eu seja a favor da monogamia e contra a poligamia do ponto de vista MORAL, não fiz nenhuma crítica à poligamia. Minha crítica é às relações superficiais. Se a monogamia é possível sem uma relação superficial, não faço aqui nenhuma crítica a ela.
É isso. Tenham uma boa noite!
Links de outras postagens para quem se interessar na discussão:
Primeiro post em que falo do feminismo: http://copaziodesaber.blogspot.com.br/2014/01/feminismo-parte-1-cristianismo.html
A situação dos liberais é parecida. Liberal não é libertino: http://copaziodesaber.blogspot.com.br/2014/01/erros-comuns-sobre-o-liberalismo.html
Aproveitem, e curtam a página do blog no Facebook (dois cliques de distância):
https://www.facebook.com/pages/Cop%C3%A1zio-de-Saber/1412921775615957
https://www.facebook.com/pages/Cop%C3%A1zio-de-Saber/1412921775615957
Nenhum comentário:
Postar um comentário