sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Independência

     Na ceia de Natal, minha família conversava sobre várias coisas. Um dos pontos que me chamou atenção foram músicas - de pessoas mais pobres - que criticavam a ostentação, o capitalismo malvado. Comecei a me perguntar se essa preocupação com o "ter" infecta mais os ricos ou os pobres. Pertenço a uma classe média-alta (embora não goste muito dessa separação de classes), mas minha família não liga muito para isso. Enquanto isso, há músicas de pessoas pobres criticando, relatos de pobres que roubam só coisas de marca etc. Penso que essa forma de valoração está presente em cada parte da sociedade.

     O jovem quer ser independente. Quer viver sem ajuda financeira dos pais. O jovem quer ter sua própria casa, seu próprio carro, pagar suas próprias despesas. O jovem quer ter seu próprio dinheiro e gastá-lo sem dar satisfação a ninguém. O jovem quer ter sua própria renda.
     Se costuma sempre pensar na autonomia financeira, mas bem menos são os que se preocupam com a autonomia intelectual, cultural, ideológica.
     Quantos jovens procuram sua própria fonte de renda intelectual? Quais criticam os próprios "duplipensamentos"? Quem busca ser independente à ideologia dos pais (independente não significa discordância)? Quem tenta compreender como o outro pensa?
     Esses jovens criticam aqueles que pensam diferente pelo pensamento do outro ter paradoxos, segundo os primeiros. Na verdade, há uma falta de compreensão e uma falta de autocrítica: quem critica o outro não critica a si mesmo, e carrega um conjunto de crenças que, em análise profunda, são contraditórias.
     As pessoas estão presas em um mundo materialista, o que importa é o que tem, e não o que pensa. Como se independesse a cultura, só a posse.
     O vírus materialista infecta todas as pessoas, não importa quanto a pessoa têm, qualquer um pode ser vítima desse pensamento - não há diferença de riqueza, um pobre pode valorizar o material mais do que um rico (há ricos pouco encanados com isso). E começa a valorizar as posses e as marcas mais do que a personalidade e os valores.
     Ricos se tornam esnobes ou valorizam uns aos outros pela marca de roupa. Os pobres roubam pela marca, não pela necessidade. - "ricos" e "pobres" no parágrafo são generalizações infelizes.
     As pessoas devem buscar uma independência não financeira, mas psicológica e cultural. A pessoa tem que valorizar a si mesmo - a vida é milhares de vezes mais preciosa do que a posse. Devemos buscar o amadurecimento cultural, aceitar críticas sem reagir como adolescentes mimados. Buscar os próprios valores e objetivos, que frutificam em uma mentalidade autossuficiente.


Tenham um bom dia!

Indicação de leitura:
"Esquerda Caviar" - Rodrigo Constantino

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